sábado, 25 de setembro de 2021

Tenho saudades. Não. Corrijo: não tenho saudades, é uma certa nostalgia, uma vontade de sentir as coisas boas e principalmente as más que já senti antes.

Deixei de reportar os meus sentimentos com recurso a palavras escritas há muito tempo. Porque deixou de ser uma necessidade.

Também deixei de ouvir música como se fosse a única coisa que me compreendesse, a única coisa no mundo inteiro que conseguisse descrever o meu estado de espírito. Porque já não o consigo fazer, já deixei de produzir hormonas que cheguem para isso.

Mas sinto nostalgia de sentir as coisas que sentia, então estou aqui.

É engraçado como há certos momentos da nossa vida que guardamos para sempre com o maior carinho, mesmo não sentindo mais o que sentíamos, apenas recordando o que eramos na altura e o que nos fez sentir. É engraçado como as pessoas vêm e vão, como deixamos de nos lembrar do som da sua voz, como, sinceramente, elas deixam de nos dizer alguma coisa e, mesmo assim, conseguimos guardar para sempre estes "certos momentos".

sábado, 29 de agosto de 2020

No meio da quarentena, sinto que criei este espaço seguro de criatividade. Onde me sinto bem na companhia do self. Arranjo pequenas missões diárias e procuro momentos de reflexão e coisas bonitas, não espalhafatosas.

Descubro ideais e normas a adotar como modos de vida. Decido que companhias ter e porquê, com certas causas a apoiar. Sinto-me segura nesse sentido e sabe-me muito bem. Acho que essencialmente, contar apenas com a minha própria expectativa. A quarentena permitiu um processo de cura que possívelmente não teria sido tão harmonioso de outra forma. Enfrentar fantasmas e dar tempo ao tempo, no espaço fechado.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Já fizeram 3 anos desde que acabamos pela primeira vez, e vamos a caminho dos 5 que nos conhecemos. Há quase 5 anos que esta figura me tolda os sentimentos e gera deste efeito outras emoções. Na sua maioria, senão na totalidade, estas emoções são confusas, dolorosas e trazem em si um travo amargo.

Perguntas de índoles variadas surgem na minha mente.

Nos meus sonhos, esta semana, ele aparece sem parar. É a terceira vez em quatro ou cinco noites passadas. Ou o odeio, ou o amo; Ou o agrido, ou o abraço; Ou ignoro completamente a sua presença numa sala imaginária, ou deixo as emoções consumir a minha fala e vomito palavras de carinho, tristeza e saudade; Uma dicotomia eterna, a girar violentamente em espiral cíclica, no que toca a escolher as regras de etiqueta a tomar, nos comportamentos a seguir, ou no que fazer.

O João em mim é ou uma dor boa, ou um prazer mau.

Lembro-me de quando era ainda miúda, de passar os fins de semana de chuva a pintar em casa, e, como qualquer experiência à Joana Nunes, eu nunca fico satisfeita com as minhas criações e, de cada vez que misturava os guaches para tentar adicionar cores mágicas e descobrir tons interessantes e abusava na quantidade de tintas da experiência, a cor acabava sempre a mesma, uma cor morta e nojenta verde-acinzentada.

O João na minha vida é uma bad trip fodida, onde, de cada vez que encontro um pôr do sol bonito, sou consumida pelo buraco negro que se forma quando as cores se diluem e misturam, formando um verde lamacento.

A nossa relação era um verde lamacento. Quanto mais coisas atirávamos, mais lamacento se tornava. Mais nojento, mais tóxico parecia deixar o ar.

O João Cruz é um verde lamacento, cada vez que penso nele, mais confusa fico. Mais emoções contraditórias crio que não sei designar, organizar e gerir.

domingo, 14 de outubro de 2018

Como me sinto segura, na tempestade, a minha vida numa bolha, a vida amena que tenho levado, num Verão que no tempo está a ser continuado. Os Verões da minha vida e as decisões por tomar que continuam estagnadas porque por enquanto continuo a ter de prestar esta prova que me deixa na realidade pobre durante mais uns meses.
Encontrei-me com a Marilu no sábado, na correria dos encargos dela tivemos um tempo para falar, sendo interrompidas pelos voluntários desejos de universitários que queriam que o seu copo continuasse para sempre cheio da bebida dourada e espumosa.
Fico feliz por vê-la numa comunidade associativa, a divertir-se e a tirar alguma coisa da experiência. Claro está, que o verdadeiro motivo que me fez deixar de falar com ela são as diferenças de motivação das nossas vidas. A Marilu vive num universo pequeno, cheio de convenções e obrigações fictícias, porém reais, que toma como responsabilidades fulcrais. Quando eramos miúdas isto era apenas a voz da consciência das minhas brincadeiras, quando eu fazia demasiado barulho, quando eu tinha uma ideia qualquer que era demasiado parva. Porém hoje, todas as nossas conversas são agradáveis, mas não saem dessa caixa. Acho que nem toda a gente tem capacidade de entender o meu estilo de vida tal como eu não consigo entender o dela.
Tenho faltado a aniversários, encontros de família, festas de natal, minimizado as minhas próprias celebrações, faltado até na simples missão de enviar um "Parabéns, espero que tenhas tido um dia feliz.", já faz dois anos. E acho que no final de contas isso acabou por manchar ainda mais a nossa relação, o que é de facto uma espécie de um auge. Já que eu sei que durante uns tempos era desculpada porque: "É a Joana, já sabemos como é que ela é". E toda a gente me trata assim, na verdade, como se eu fosse um soldado com uma experiência pós-traumática que me faz passar ao lado das obrigações da sociedade.
Na festa perguntei-lhe o que é que ia fazer, se queria voltar a ir para fora, ela, finalmente, mostrou-me que a desculpa do soldado com SPT não servia mais e atirou-me um ríspido: "Nem toda a gente é como tu, nem toda a gente consegue largar tudo". Perguntei, porque não confio no namorado dela, vai fazer com que ela se apegue demasiado, ela já tem demasiadas características de mãe na personalidade, já vive para os outros. Não consigo desculpar alguém que a faça viver para ele. Se ela ficar com ele para sempre (não, não estou a fazer premeditações parvas eles são meninos para isso), ela vai perder parte de uma vida que nunca vai conseguir recuperar nunca mais, a liberdade de ser para si, de pensar para si, de fazer para si. Ela precisa de alguém que a tire da caixa e não de alguém que viva no mesmo espaço contíguo que o dela.
É por isto que acho que gosto da Lala e do Daniel, ela foi escolher uma pessoa que completa a complicação da cabeça dela, ao descomplicá-la, enquanto ela põe juízo na cabeça dele. Não há realmente uma força sugadora em nenhum deles, nenhum deles tem capacidade para deixar o outro num seguimento de opressão, porque nenhum deles é realmente melhor que o outro.
Quanto a mim, acho que me tornei uma Bia, tenho saído e conhecido pessoas nas minhas saídas, sempre, o que é bom, faz-me sentir bem.
Acho que fiz isso a toda a gente nestes últimos dois anos. Estou a ouvir uma conversa ao telefone entre a minha avó e a minha mãe, a minha mãe acabou de lhe contar a novidade do momento, "a Joana vai voltar a Macau", ela teve aquela reação de "nada me surpreende mais". Eles não me dizem, mas também estão extremamente magoados, os meus avós. Não só por eu quase não lhes dizer nada, mas por parecer que continuo a fugir de toda a gente, sem precisar deles realmente. Não perdoam a independência com que levo a minha vida, sem pensar nas consequências. Que, na minha opinião, não é assim tão independente. Eu sou um bebé comparado com a Bea, com as pessoas que conheci durante as viagens, eu sou extremamente dependente e eu sei isso. Mas não para eles. Para eles e aparentemente para a Marilu, eu sou uma inconsciente. O que raio é que poderá haver noutro lado do mundo que seja melhor que a Europa? "Nada, ela perdeu a cabeça."
Às vezes pergunto-me, se estou a fazer o melhor para mim. A minha mãe e os irmãos resolveram a história das partilhas, ela ficou sem a casa e quer agora comprar parte do terreno da casa do meu avô e fazer uma casa de campo. Na cabeça dela tenho a certeza que saltam grandes planos, uma casa com jardim cheio de flores e uma horta, uma grande sala de jantar, uma casa para usufruir. Falamos sobre isto e eu disse-lhe que era giro transformar um barracão numa chill room. Mas depois parei a conversa e interrompi os sonhos dela. "Na verdade mãe, tens de pensar no que será melhor para vocês os dois, só vocês os dois é que vão usufruir da casa, nós nunca o faremos, é uma casa para ti."
Imagens na minha cabeça passaram, eu e a Lu, dois gatos sem dono, não teremos filhos, pelo andar da carruagem nem sequer viveremos em Portugal. Toda uma linhagem completamente destruída. Não haverá Natal em família, para podermos usar uma sala de jantar grande e bonita com uma grande mesa. Não haverá "passar uns dias na casa de férias com os filhos e os avós". Pensar nesse futuro nunca me assentou, não vai existir. Os meus pais vão ficar sozinhos naquela casa, portanto mais vale agora tirar o penso rápido e a excitação de contruir uma casa de sonho. Não vale a pena, não há sonho, será para sempre só uma casa.
Começo, neste momento, a encarar o facto da minha vida poder vir a tornar-se um eu solitário, focado no trabalho e no eu em si. Sou demasiado focada em mim mesma para o gosto de pensar em ter mais que uma vida partilhada com uma família. Não posso dizer que seja isso que eu quero realmente, mas na sua parcialidade acho que é justamente o que sempre quis. Tenho pensado muito nesse futuro, na realidade, na possibilidade de me afastar de toda a gente. "A Joana, a tia que vive fora" - A tia que toda a gente adora porque traz sempre presentes para toda a gente e é engraçada porque parece um bocado doida.
De repente imaginei-me a morrer, sozinha, num hospital onde Judas perdeu as botas, de um cancro óbvio. Ninguém me diz, mas tenho a certeza que toda a gente acha que vou acabar assim (estou a rir-me disto). "Viveste tanto que te esqueceste de viver as coisas mais básicas". E a base é o que faz O Ser ser Humano, portanto, ao fim e ao cabo nunca serei feliz principalmente porque a minha motivação é a busca da felicidade. Mas continuo a rir-me disto, da ironia que é. Estou a ouvir alguém a dizer: "Óbvio Sherlock. ".
Algures no meu íntimo penso numa noite sentada no sofá branco, aleatóriamente posicionado em frente à grande e corrida janela da sala, já que não faço a mínima ideia de como ele foi ali parar. Quero jurar que vejo o tom castanho sujo do céu provocado pela mistura entre o escuro da noite e as luzes amarelas da rua. Que me lembro vagamente de uma qualquer conversa sobre a possibilidade de morrer e de na verdade não me sentir sozinha ao falar disso.
Eu acho que só sinto a falta disto à noite. Porque detesto cada vez mais dormir sozinha. Não suporto isso. Sinto-me tão desprotegida. Acordo 30 vezes por noite e percebo que os meus sonhos não têm teor nenhum, que dormir é apenas funcional, durmo porque tenho de dormir. E tenho esta constante sensação que todos os males do mundo podem cair em mim enquanto estou a dormir.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Pareço uma retardada, literalmente. Acho que sou um atraso de ser humano. Não estou a saber lidar com o turbilhão de coisas que me passam pela cabeça. Não sei o que estou a fazer e só me apetece rebolar no chão até ficar de barriga para cima a fitar o teto com a mão na testa.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Estou exausta mas tento colocar todas as peças no sítiocerto. Do lado de fora da janela, passa uma mota e o seu barulhento tubo de escape. Aqui dentro, oiço apenas as teclas e a ventilação do computador. A minha cabeça relaxa ao focar-se no ambiente que me rodeia.
Na verdade, estou muito confusa. Começa a aproximar-se a hora para tomar decisões. Saio ou fico aqui? Vou trabalhar ou vou estudar? Deixo-me estar em Lisboa ou procuro alguma coisa lá fora?

Sinto-me dormente. É normal sentir isto? Estou tão confusa com essa dormência. O Nuno diz que estou a passar por todas as fases que ele passou, que somos iguais. Já acreditei menos nisso. Há um ano atrás eu andava feliz, tinha acabado de receber a notícia que iria estagiar em Macau com a Bea e estava apenas preocupada em apreciar o meu tempo, o que restava, das minhas férias.

Hoje, sinto que continuo a andar, mas para trás. Não há nada para mim lá atrás. Estou farta e cansada, genuinamente, da forma como a vida se tem feito passar nestes últimos meses. Tenho sonhos de ir descobrir coisas que importem realmente para mim, sonhos de estar com os meus amigos e com o meu pessoal, sonhos de construir a minha própria vida. Ultrapassa o querer ser feliz. Eu não quero ser feliz, só quero construir alguma coisa que me faça ter orgulho nela. O Zé diz que as minhas últimas decisões têm sido "uma palhaçada" (esta descrição faz-me sempre sorrir).

E se eu estiver a cometer um erro gigante? É que nem sequer é compensador, estas escolhas não compensam, não me trazem ou, não me trouxeram, nada que valesse a pena, até agora. E eu não me posso contentar com o "meh". Olha que merda. Não foi para isto que me preparei durante tanto tempo. Não sinto nada, não sinto felicidade, não sinto tristeza, não sinto paixão, não sinto saudades, nada. Nada. N-A-D-A.

Numa das noites em Leiria, fiquei a participar numa conversa com a Lacerda e a Sofia, estivemos 4 horas a conversar sem parar, até às 8 e tal da manhã. Falamos sobre trinta mil coisas diferentes. A Sofia falou do Ricardo, de tudo o que ainda havia a dizer sobre ele, e a Lala falou do novo namorado, do medo que tem dos dois meses que vão ficar separados e mimimi e mómómó... Claro que percebo a parte dela, mas acho que não tem nada com que se preocupar e que está a sofrer por antecipação. Mas eu percebi que estou mesmo na dormência em comparação com aquelas duas, que estão em fases totalmente opostas. A Sofia ainda a recuperar de um desgosto amoroso e a Lala, antes pelo contrário, toda apaixonada e beca-beca. Eu sou aquele urso que está a preparar a fase da hibernação, então a única coisa que tem feito é comer, para se aguentar enquanto dorme, no inverno. Só me apetece rir com esta comparação parva, que parece não ter nada como o assunto. Acho que o facto de ser uma péssima comparação se adequa ainda mais, porque é mesmo à toa, como eu.

Então cá ando, Joana o urso castanho fofinho, a comer mel e corn flakes, enquanto as amigas falam sobre a vida e o amor e tudo o resto. "Passa-me as bolachas se faz favor!". Não sei como, a conversa veio parar a mim e a Lacerda soltou um: "Sim, mas tu és COMPLETAMENTE louca." - riu e depois continuou com um ar mais sério - "Acho que ninguém consegue realmente acompanhar essa loucura." - Para me defender apontei para o Zé, que dormia no sofá como se o caos não o envolvesse, mas ela continuou - "Nem ele Ju, ele está lá quase, mas nem ele consegue perceber-te". Quis perguntar mais sobre isto, mas não perguntei porque acho que não devemos mostrar demasiado narcisismo numa conversa com outras pessoas. Mesmo assim gostava de entender o que raio quis ela dizer com isto. Assustou-me na verdade esta conversa, a possibilidade de nunca ninguém conseguir acompanhar-me, nem mesmo o Zé. Acho que realmente ninguém me entenderá. Acho que não conheço uma pessoa no mundo que saiba realmente quem eu sou, sem ser o Zé, e, o simples pensamento de que nem ele consegue entender-me a 100%, assusta-me. Faz-me sentir sozinha. Quem sou eu para estas pessoas? Ser louca é bom?

O Aurélio diz que sou a pessoa do grupo que mais facilmente alcançará a felicidade, "és e serás sempre a personificação de tudo o que é a felicidade neste mundo" ele diz que a minha rede de luzes é tão complexa que nunca ninguém a vai conseguir decifrar e que eles só conseguem tentar acompanhar, adoro este discurso, e talvez ele tenha tentado dizer o mesmo que a Lala. Mas continuo a não entender. Não sei, estou tão à toa.

segunda-feira, 2 de julho de 2018


No espaço de 4 dias tem tudo vindo a descambar na minha vida e hoje parece que o meu balde encheu. Só me apetece fechar-me e chorar.
Os meus pais voltaram de férias e trouxeram o caos com eles, sinto-me tão sufocada, tão sem espaço para respirar. Tive de pagar um monte de contas e estou mesmo a ficar sem dinheiro, como se ainda não bastasse, de repente o meu telemóvel dá o berro e fico sem o cartão, portanto mais uma conta que vai ter de sair do meu bolso.
Não estou mesmo a saber lidar com tudo isto ao mesmo tempo. Marquei umas aulas extras de condução e já não aguento o instrutor, diz-me que não estou pronta e que ninguém me mandou marcar o exame. Mas não é suposto ele ensinar-me tudo em 32 aulas? Porque raio é que tenho de estar a dar dinheiro a mais? Porque é que ele não faz o trabalho dele e simplesmente me ensina como deve de ser as coisas, em vez de gritar comigo? Detesto-o. Tenho imenso medo de falhar, não quero falhar, estou farta de ter este assunto suspenso, estou farta de andar a trabalhar para isto e de ter o homem a gritar comigo, não sei lidar com isso. Tenho mesmo medo de chumbar. E a culpa é dele porque se ele está ali é para ensinar as pessoas, não é para obrigar a malta a marcar aulas extras, eu não tenho dinheiro para isso, portanto ele que faça o trabalho dele.
Não estou mesmo a conseguir lidar com isto. Sinto-me extremamente sufocada e estou farta de estar a viver aqui. Estou mesmo cansada do tipo de vida que ando a levar. Farta de viver com os meus pais que estão cada vez mais velhos e andam a passar cada vez mais tempo em casa, não me dando espaço para estar sozinha.
Estar do outro lado do mundo não era só bom porque eu estava a viajar. Estar do outro lado do mundo permitia afastar-me de toda a gente que me traz problemas, eu, pela primeira vez na vida, senti o que era não ter problemas para além do meu desempenho no trabalho. Eu não tinha mais preocupações, saía do trabalho, saíam os problemas da minha vida, era simples. Aqui eu não consigo fazer isso. Aqui eu tenho de lidar com as depressões dos meus pais e com as expetativas de toda a gente em relação ao meu próprio futuro e não está fácil fazer isso. Eu sei que são problemas com soluções e que é do sofrimento que vem a vontade de querer sair, mas o meu medo de falhar hoje está a dar cabo de mim e então hoje posso queixar-me.

terça-feira, 5 de junho de 2018

O que estou a fazer?
Olho para os objetos à minha volta, dispersos. A câmara, um guarda-chuva, uns papéis, uns cartões e uma ferramenta estranha ocupam lugares sem sentido, noção ou lógica na mesa. Sinto-me como se também eu, com os meus cotovelos e antebraços pousados sobre o tampo, protegido pela toalha, fossem um desses objetos, dispostos aleatóriamente sobre a mesa. Como se a mesa pudesse representar o mundo e eu aqui, disposta sem lógica ou motivo de ser, sem utilidade atual.

Apercebi-me que estava zangada. Será que vou ficar zangada para sempre? E odeio-me por quase tudo o que produzi nos últimos meses. Parece que estou a escrever um livro de auto-ajuda para mim mesma, inútil (um sorriso esboça-se no meu rosto). Eu sou uma idiota.

E sempre que pego na caneta e no lápis para escrever não me sai nada. Já nem isso sei fazer. Comprei um caderno novo e para além de páginas em branco sem nexo, há também as minhas "maravilhosas" criações - rabiscos/desenhos estranhos e palavras soltas.

Não disse nada ainda mas estive de viagem. Nem disso falei. É estranho dizer que a minha parte preferida foi quando fomos aos museus ver obras? 

Pareço uma atrasada (sorriso, outra vez).

Aquela pergunta que eu faço questão de responder sempre em cada entrada, apesar de ninguém me perguntar - "Estás feliz Joana?":
- Eu não faço puta de ideia. (sorriso)

quarta-feira, 23 de maio de 2018


Sou um ser humano. Ser humano é, ao contrário do que costumo aclamar, nada estranho. De repente dou comigo num turbilhão de emoções que me levam à realidade.

Isto nunca foi sobre um único momento de aprendizagem na minha vida. Isto, e com isto eu quero dizer a minha vida, nunca foi baseada num único momento, num único marco. Eu não posso esperar o "final feliz" assim que derrubo um obstáculo, isso é errado. Não seria um ser humano se estivesse feliz e satisfeita com a minha vida, a felicidade não faria sentido se o sofrimento constante não existisse de todo. Isso faria da felicidade uma total tristeza em si, a felicidade era irrelevante, seria a felicidade o mesmo que designamos como apatia. Sem tristeza a vida seria insonsa. Estou a ter uma conclusão à Inside Out, eu sei. Mas eu baseei todas as minhas vitórias dos últimos meses em motivos que já não são válidos. O que eu quero dizer é que eu peguei em mim completamente destruída e sem definição de um Eu e utilizei esse sofrimento, essa dor (que me incomodava bastante) para me mexer, em torno de todos os obstáculos e com duas palas de cavalo, que me fizessem olhar apenas para a frente e para o caminho que ía percorrer. O problema que surge quando ultrapassas um obstáculo e o ultrapassas bem, é quando o caminho que andaste até agora em torno desse obstáculo se esgota. 

Eu estava numa estrada maravilhosa, uma estrada que construí sozinha, gosto de pensar nela como aquela estrada de tijolos amarelos do Feiticeiro de Oz. Fui eu que coloquei todos aqueles tijolos para fazer a estrada, era uma estrada bonita que eu tinha construído num caminho corta-mato que não existia antes. Mas os tijolos esgotaram e eu cheguei a um ponto onde não podia mais construir a estrada de tijolos amarelos, mas continuei ali, no fim da estrada virada de costas para o futuro, em pé com os braços na cintura a admirar a estrada bonita, a admirar o meu esforço, a relembrar o momento em que coloquei cada tijolo no seu sítio específico, cada voo, cada novo (agora velho) destino, a bajular todos os momentos. A estrada era a menina dos meus olhos. O orgulho alastrou-se com o tempo, mas em mim algo estava errado. Não me chega uma vida a relembrar a felicidade. Estou insatisfeita, como sempre.

No final da estrada, eu estou de repente a virar-lhe as costas, ao fim de longos seis meses. Encarei o meu futuro e o problema é que neste momento tenho na minha mão mais mato bravo, selvagem. O mato mais selvagem que já vi e tenho demasiadas direções para me virar para. Tenho tantas opções que não sei o que fazer. Aqui estou eu, a escolher não me mexer para preservar o momento, porque se eu nunca tomar uma decisão, vou poder ficar aqui para sempre, neste lugar confortável, sem precisar de me preocupar com o que quero realmente, não preciso de saber nada enquanto não tomar decisão nenhuma. Não há efeito borboleta se eu não bater as asas, se eu decidir limitar os meus movimentos ao máximo, não desencadeio acontecimentos, não desencadeio mutações na minha vida - não querendo soar demasiado inspirada nisto - "as long as you don't choose, everything remains possible".

Eu não sei o que escolher, não sei o que construir agora e não gosto de pensar que na vida eu não sei se estou a fazer a melhor escolha. O Nuno disse-me ontem que isto seria uma questão de sorte. "Ou sabes o que queres e corres atrás disso, ou então vais simplesmente chutando a bola para a frente e aprendes a gostar do que fazes, aprendes a gostar de jogar, é uma questão de sorte depois."

Aqui estou eu, humana, como sempre, insatisfeita. A insatisfação será então uma forma de felicidade. Por isso sim, eu acredito na felicidade, não só como um fim em si mesmo, mas como um motor. A felicidade é o motor que nos leva à felicidade. Ou melhor, a busca da felicidade, leva-nos à felicidade. A felicidade existe. Eu acredito na felicidade, porque se não acreditasse eu continuava aqui parada, a lamentar-me por não ser feliz. E se acredito na felicidade também acredito no sofrimento. Acredito no sofrimento como se este fosse o primeiro impulso. O sofrimento é a base. A busca da felicidade é como um motor a arrancar, um motor potencia explosões para colocar uma qualquer máquina a andar, os impulsos levam ao movimento, da mesma maneira que o sofrimento impulsiona a felicidade. O sofrimento é a explosão que provoca o andamento. A infelicidade é proporcionadora da felicidade. E sim, sim eu acredito na felicidade. Se eu não acreditar o que estou aqui a fazer?

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Faixa Crua

As palavras prendem-se na minha cabeça e eu escrevo. A música inspira-me e procuro constantemente encontrar parte de mim na letra e na melodia. Escuto albúns dos mais variados estilos de forma a tentar encontrar uma resposta, como se os ensinamentos dos outros fossem a resposta às minhas "preces", lições aprendidas por outros que eu possa prever para mim mesma, enquanto danço.
Ao mesmo tempo busco influência, grandeza dos outros e expressão própria.
Estou a explorar o que sinto até ao tutano. Escrevi há dias uma faixa crua, apesar de já ter dado inicio ao processo anteriormente, tendo já algumas letras rabiscadas no meu novo caderno de capa preta, mas esta mexeu comigo. Mexeu em coisas que eu não conseguia admitir para mim própria, questões que pairavam na minha mente há muito tempo e que continuam por estar resolvidas. Quando falo de questões não falo diretamente de perguntas, mas sim de certezas, certezas que me magoam ou me mõem de alguma forma, moer é uma expressão engraçada. São estas certezas quase mortais, a vergonha que sinto, o julgamento a que sou sujeita se elas se revelam. Todas as minhas emoções contidas naquela faixa que decidi gravar a cru, deixar a voz sentir, falada, os sentimentos contidos naquelas palavras. Quando acabei, achei que nunca tinho sido tão honesta comigo mesma. Estou a adorar o que estou a criar.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Um CD qualquer acabara de tocar a sua última faixa, estavamos no carro e estava a chover, a conversa ocasional sobre a vida em geral e o seu significado entoavam a estrutura contígua do carro, trancado, naquela noite de dia de semana no parque de estacionamento do Mc'Donalds do Restelo, local que sempre escolhemos para ele jantar depois das aulas e para ficarmos a conversar sem tema redundante. De repente, as notas músicais do CD que se seguiu inundaram o ambiente, preenchendo o vazio. A noite envolvia-nos e eu envolvida no meu casaco polar tentava manter-me quente. Fechei os olhos e calei-me, ele percebeu que aquela música me deixou prazerosamente nostálgica, acho que também ele se sentiu assim porque não dissemos nada durante algum tempo. Conseguia ouvir as gotas da chuva a bater no pára-brisas e nos vidros das portas laterais do carro e vê-la escorrer com alguma ferocidade pelo translúcido daquela parede invísivel. Deixei cair tudo ali, deixei cair a guarda e decidi agarrar-me à tristeza de uma forma que ele nunca tinha visto. Falámos sobre Deus. Deixei cair o banco para trás e deitei-me, ficando a fitar o teto de feltro negro, sem tejadilho. Ele, por sua vez, desceu também o banco e ficou em silêncio a olhar para mim, perdida no feltro no lugar do não existente tejadilho. Levantou a mão e fez escorregar a ponta do indicador suavemente desde a minha testa até à ponta da cana do meu nariz, fez um desvio e tocou com a mão na minha bochecha e deixou-se estar a fazer-me festas no silêncio melódico do CD que entoava a atmosfera. Deixei-o estar, ainda que parte de mim estivesse a resistir contra aquele gesto, deixei-o afagar-me o rosto, deixei-o tentar apagar o vazio que sentia, deixei-o confortar a minha alma durante uns breves minutos sem resistir. Não quis chorar, mas se estivesse sozinha tê-lo-ia feito. Quando o gesto escalou e se transformou num doce beijo na minha maçã do rosto, fiz o meu papel e afastei-o, como sempre faço.

terça-feira, 8 de maio de 2018

Aleatório

A semana que passou foi a semana mais aleatória da minha vida.
Estou a lidar com o meu eu num espectro desconhecido. Um dia eu fui uma pessoa de certezas, soube o que queria fazer e quem queria ser, em sonho. Na verdade nunca soube o que realmente queria da vida. Sempre me foi relativamente fácil ter coisas, não que me seja de facto muito fácil, mas fácil nível médio. 
Sou mais feliz quando não sei o que estou a fazer mas mesmo assim as coisas parecem resultar de alguma forma misteriosa, como se fosse abençoada de alguma maneira aleatória. Isso é o que mais me acontece na vida. Ter inesperadamente sorte. Aconteceu-me quando o pai da Cah morreu, quando fui para Macau a primeira vez e levei uma camisa na mala "a gozar" a pensar na hipótese (que na altura era demasiado irreal) de ter uma entrevista de estágio caída do céu para ficar lá, quando apanhei uma mulher chalada da cabeça no Uber que nos fez dar uma volta de 40 minutos que me fez ter uma das melhores conversas da minha vida no caminho para casa, na passagem de ano quando conheci aquele grupo de estrangeiros, este fim de semana quando comecei a sexta-feira em Almada, o sábado num estaleiro naval abandonado e na madrugada de domingo numa festa universitária já em Lisboa... Podia continuar estes exemplos para sempre. Pergunto-me também se estas coisas acontecem a pessoas normais, se acontecem a toda a gente. Acontecem?
De alguma maneira me sinto abençoada, ou devo simplesmente ter uma sorte que é por vezes demasiado boa. Se é que esses conceitos existem mesmo. Ou simplesmente a soma de acontecimentos tem sido a meu favor sem que realmente o seu propósito (sendo este não existente) seja favorecer-me. Tenho medo que a sorte se apague da minha vida, esse é um dos meus maiores medos, que a minha vida e a minha chama se apague. É estranho eu ter mais medo disto do que de morrer? É estranho um dos meus maiores medos ser deixar de viver momentos aleatórios de alta intensidade? Será que toda a gente tem estes momentos?