Sou um ser humano. Ser
humano é, ao contrário do que costumo aclamar, nada estranho. De repente dou
comigo num turbilhão de emoções que me levam à realidade.
Isto nunca foi
sobre um único momento de aprendizagem na minha vida. Isto, e com isto eu quero
dizer a minha vida, nunca foi baseada num único momento, num único marco. Eu
não posso esperar o "final feliz" assim que derrubo um obstáculo,
isso é errado. Não seria um ser humano se estivesse feliz e satisfeita com a
minha vida, a felicidade não faria sentido se o sofrimento constante não
existisse de todo. Isso faria da felicidade uma total tristeza em si, a
felicidade era irrelevante, seria a felicidade o mesmo que designamos como
apatia. Sem tristeza a vida seria insonsa. Estou a ter uma conclusão à Inside Out, eu sei. Mas eu baseei todas
as minhas vitórias dos últimos meses em motivos que já não são válidos. O que
eu quero dizer é que eu peguei em mim completamente destruída e sem definição
de um Eu e utilizei esse sofrimento, essa dor (que me incomodava bastante) para
me mexer, em torno de todos os obstáculos e com duas palas de cavalo, que me
fizessem olhar apenas para a frente e para o caminho que ía percorrer. O
problema que surge quando ultrapassas um obstáculo e o ultrapassas bem, é
quando o caminho que andaste até agora em torno desse obstáculo se
esgota.
Eu estava numa
estrada maravilhosa, uma estrada que construí sozinha, gosto de pensar nela
como aquela estrada de tijolos amarelos do Feiticeiro de Oz. Fui eu que
coloquei todos aqueles tijolos para fazer a estrada, era uma estrada bonita que
eu tinha construído num caminho corta-mato que não existia antes. Mas os
tijolos esgotaram e eu cheguei a um ponto onde não podia mais construir a
estrada de tijolos amarelos, mas continuei ali, no fim da estrada virada de
costas para o futuro, em pé com os braços na cintura a admirar a estrada
bonita, a admirar o meu esforço, a relembrar o momento em que coloquei cada
tijolo no seu sítio específico, cada voo, cada novo (agora velho) destino, a
bajular todos os momentos. A estrada era a menina dos meus olhos. O orgulho
alastrou-se com o tempo, mas em mim algo estava errado. Não me chega uma vida a
relembrar a felicidade. Estou insatisfeita, como sempre.
No final da
estrada, eu estou de repente a virar-lhe as costas, ao fim de longos seis
meses. Encarei o meu futuro e o problema é que neste momento tenho na minha mão
mais mato bravo, selvagem. O mato mais selvagem que já vi e tenho demasiadas
direções para me virar para. Tenho tantas opções que não sei o que fazer. Aqui
estou eu, a escolher não me mexer para preservar o momento, porque se eu nunca
tomar uma decisão, vou poder ficar aqui para sempre, neste lugar confortável,
sem precisar de me preocupar com o que quero realmente, não preciso de saber
nada enquanto não tomar decisão nenhuma. Não há efeito borboleta se eu não
bater as asas, se eu decidir limitar os meus movimentos ao máximo, não
desencadeio acontecimentos, não desencadeio mutações na minha vida - não
querendo soar demasiado inspirada nisto - "as long as you don't choose, everything remains possible".
Eu não sei o
que escolher, não sei o que construir agora e não gosto de pensar que na vida
eu não sei se estou a fazer a melhor escolha. O Nuno disse-me ontem que isto
seria uma questão de sorte. "Ou
sabes o que queres e corres atrás disso, ou então vais simplesmente chutando a
bola para a frente e aprendes a gostar do que fazes, aprendes a gostar de jogar,
é uma questão de sorte depois."
Aqui estou eu,
humana, como sempre, insatisfeita. A insatisfação será então uma forma de
felicidade. Por isso sim, eu acredito na felicidade, não só como um fim em si
mesmo, mas como um motor. A felicidade é o motor que nos leva à felicidade. Ou
melhor, a busca da felicidade, leva-nos à felicidade. A felicidade existe. Eu
acredito na felicidade, porque se não acreditasse eu continuava aqui parada, a
lamentar-me por não ser feliz. E se acredito na felicidade também acredito no
sofrimento. Acredito no sofrimento como se este fosse o primeiro impulso. O
sofrimento é a base. A busca da felicidade é como um motor a arrancar, um motor
potencia explosões para colocar uma qualquer máquina a andar, os impulsos levam
ao movimento, da mesma maneira que o sofrimento impulsiona a felicidade. O
sofrimento é a explosão que provoca o andamento. A infelicidade é
proporcionadora da felicidade. E sim, sim eu acredito na felicidade. Se eu não acreditar o que estou aqui a fazer?
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