quarta-feira, 23 de maio de 2018


Sou um ser humano. Ser humano é, ao contrário do que costumo aclamar, nada estranho. De repente dou comigo num turbilhão de emoções que me levam à realidade.

Isto nunca foi sobre um único momento de aprendizagem na minha vida. Isto, e com isto eu quero dizer a minha vida, nunca foi baseada num único momento, num único marco. Eu não posso esperar o "final feliz" assim que derrubo um obstáculo, isso é errado. Não seria um ser humano se estivesse feliz e satisfeita com a minha vida, a felicidade não faria sentido se o sofrimento constante não existisse de todo. Isso faria da felicidade uma total tristeza em si, a felicidade era irrelevante, seria a felicidade o mesmo que designamos como apatia. Sem tristeza a vida seria insonsa. Estou a ter uma conclusão à Inside Out, eu sei. Mas eu baseei todas as minhas vitórias dos últimos meses em motivos que já não são válidos. O que eu quero dizer é que eu peguei em mim completamente destruída e sem definição de um Eu e utilizei esse sofrimento, essa dor (que me incomodava bastante) para me mexer, em torno de todos os obstáculos e com duas palas de cavalo, que me fizessem olhar apenas para a frente e para o caminho que ía percorrer. O problema que surge quando ultrapassas um obstáculo e o ultrapassas bem, é quando o caminho que andaste até agora em torno desse obstáculo se esgota. 

Eu estava numa estrada maravilhosa, uma estrada que construí sozinha, gosto de pensar nela como aquela estrada de tijolos amarelos do Feiticeiro de Oz. Fui eu que coloquei todos aqueles tijolos para fazer a estrada, era uma estrada bonita que eu tinha construído num caminho corta-mato que não existia antes. Mas os tijolos esgotaram e eu cheguei a um ponto onde não podia mais construir a estrada de tijolos amarelos, mas continuei ali, no fim da estrada virada de costas para o futuro, em pé com os braços na cintura a admirar a estrada bonita, a admirar o meu esforço, a relembrar o momento em que coloquei cada tijolo no seu sítio específico, cada voo, cada novo (agora velho) destino, a bajular todos os momentos. A estrada era a menina dos meus olhos. O orgulho alastrou-se com o tempo, mas em mim algo estava errado. Não me chega uma vida a relembrar a felicidade. Estou insatisfeita, como sempre.

No final da estrada, eu estou de repente a virar-lhe as costas, ao fim de longos seis meses. Encarei o meu futuro e o problema é que neste momento tenho na minha mão mais mato bravo, selvagem. O mato mais selvagem que já vi e tenho demasiadas direções para me virar para. Tenho tantas opções que não sei o que fazer. Aqui estou eu, a escolher não me mexer para preservar o momento, porque se eu nunca tomar uma decisão, vou poder ficar aqui para sempre, neste lugar confortável, sem precisar de me preocupar com o que quero realmente, não preciso de saber nada enquanto não tomar decisão nenhuma. Não há efeito borboleta se eu não bater as asas, se eu decidir limitar os meus movimentos ao máximo, não desencadeio acontecimentos, não desencadeio mutações na minha vida - não querendo soar demasiado inspirada nisto - "as long as you don't choose, everything remains possible".

Eu não sei o que escolher, não sei o que construir agora e não gosto de pensar que na vida eu não sei se estou a fazer a melhor escolha. O Nuno disse-me ontem que isto seria uma questão de sorte. "Ou sabes o que queres e corres atrás disso, ou então vais simplesmente chutando a bola para a frente e aprendes a gostar do que fazes, aprendes a gostar de jogar, é uma questão de sorte depois."

Aqui estou eu, humana, como sempre, insatisfeita. A insatisfação será então uma forma de felicidade. Por isso sim, eu acredito na felicidade, não só como um fim em si mesmo, mas como um motor. A felicidade é o motor que nos leva à felicidade. Ou melhor, a busca da felicidade, leva-nos à felicidade. A felicidade existe. Eu acredito na felicidade, porque se não acreditasse eu continuava aqui parada, a lamentar-me por não ser feliz. E se acredito na felicidade também acredito no sofrimento. Acredito no sofrimento como se este fosse o primeiro impulso. O sofrimento é a base. A busca da felicidade é como um motor a arrancar, um motor potencia explosões para colocar uma qualquer máquina a andar, os impulsos levam ao movimento, da mesma maneira que o sofrimento impulsiona a felicidade. O sofrimento é a explosão que provoca o andamento. A infelicidade é proporcionadora da felicidade. E sim, sim eu acredito na felicidade. Se eu não acreditar o que estou aqui a fazer?

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