terça-feira, 8 de maio de 2018

Aleatório

A semana que passou foi a semana mais aleatória da minha vida.
Estou a lidar com o meu eu num espectro desconhecido. Um dia eu fui uma pessoa de certezas, soube o que queria fazer e quem queria ser, em sonho. Na verdade nunca soube o que realmente queria da vida. Sempre me foi relativamente fácil ter coisas, não que me seja de facto muito fácil, mas fácil nível médio. 
Sou mais feliz quando não sei o que estou a fazer mas mesmo assim as coisas parecem resultar de alguma forma misteriosa, como se fosse abençoada de alguma maneira aleatória. Isso é o que mais me acontece na vida. Ter inesperadamente sorte. Aconteceu-me quando o pai da Cah morreu, quando fui para Macau a primeira vez e levei uma camisa na mala "a gozar" a pensar na hipótese (que na altura era demasiado irreal) de ter uma entrevista de estágio caída do céu para ficar lá, quando apanhei uma mulher chalada da cabeça no Uber que nos fez dar uma volta de 40 minutos que me fez ter uma das melhores conversas da minha vida no caminho para casa, na passagem de ano quando conheci aquele grupo de estrangeiros, este fim de semana quando comecei a sexta-feira em Almada, o sábado num estaleiro naval abandonado e na madrugada de domingo numa festa universitária já em Lisboa... Podia continuar estes exemplos para sempre. Pergunto-me também se estas coisas acontecem a pessoas normais, se acontecem a toda a gente. Acontecem?
De alguma maneira me sinto abençoada, ou devo simplesmente ter uma sorte que é por vezes demasiado boa. Se é que esses conceitos existem mesmo. Ou simplesmente a soma de acontecimentos tem sido a meu favor sem que realmente o seu propósito (sendo este não existente) seja favorecer-me. Tenho medo que a sorte se apague da minha vida, esse é um dos meus maiores medos, que a minha vida e a minha chama se apague. É estranho eu ter mais medo disto do que de morrer? É estranho um dos meus maiores medos ser deixar de viver momentos aleatórios de alta intensidade? Será que toda a gente tem estes momentos?

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