quinta-feira, 5 de julho de 2018

Estou exausta mas tento colocar todas as peças no sítiocerto. Do lado de fora da janela, passa uma mota e o seu barulhento tubo de escape. Aqui dentro, oiço apenas as teclas e a ventilação do computador. A minha cabeça relaxa ao focar-se no ambiente que me rodeia.
Na verdade, estou muito confusa. Começa a aproximar-se a hora para tomar decisões. Saio ou fico aqui? Vou trabalhar ou vou estudar? Deixo-me estar em Lisboa ou procuro alguma coisa lá fora?

Sinto-me dormente. É normal sentir isto? Estou tão confusa com essa dormência. O Nuno diz que estou a passar por todas as fases que ele passou, que somos iguais. Já acreditei menos nisso. Há um ano atrás eu andava feliz, tinha acabado de receber a notícia que iria estagiar em Macau com a Bea e estava apenas preocupada em apreciar o meu tempo, o que restava, das minhas férias.

Hoje, sinto que continuo a andar, mas para trás. Não há nada para mim lá atrás. Estou farta e cansada, genuinamente, da forma como a vida se tem feito passar nestes últimos meses. Tenho sonhos de ir descobrir coisas que importem realmente para mim, sonhos de estar com os meus amigos e com o meu pessoal, sonhos de construir a minha própria vida. Ultrapassa o querer ser feliz. Eu não quero ser feliz, só quero construir alguma coisa que me faça ter orgulho nela. O Zé diz que as minhas últimas decisões têm sido "uma palhaçada" (esta descrição faz-me sempre sorrir).

E se eu estiver a cometer um erro gigante? É que nem sequer é compensador, estas escolhas não compensam, não me trazem ou, não me trouxeram, nada que valesse a pena, até agora. E eu não me posso contentar com o "meh". Olha que merda. Não foi para isto que me preparei durante tanto tempo. Não sinto nada, não sinto felicidade, não sinto tristeza, não sinto paixão, não sinto saudades, nada. Nada. N-A-D-A.

Numa das noites em Leiria, fiquei a participar numa conversa com a Lacerda e a Sofia, estivemos 4 horas a conversar sem parar, até às 8 e tal da manhã. Falamos sobre trinta mil coisas diferentes. A Sofia falou do Ricardo, de tudo o que ainda havia a dizer sobre ele, e a Lala falou do novo namorado, do medo que tem dos dois meses que vão ficar separados e mimimi e mómómó... Claro que percebo a parte dela, mas acho que não tem nada com que se preocupar e que está a sofrer por antecipação. Mas eu percebi que estou mesmo na dormência em comparação com aquelas duas, que estão em fases totalmente opostas. A Sofia ainda a recuperar de um desgosto amoroso e a Lala, antes pelo contrário, toda apaixonada e beca-beca. Eu sou aquele urso que está a preparar a fase da hibernação, então a única coisa que tem feito é comer, para se aguentar enquanto dorme, no inverno. Só me apetece rir com esta comparação parva, que parece não ter nada como o assunto. Acho que o facto de ser uma péssima comparação se adequa ainda mais, porque é mesmo à toa, como eu.

Então cá ando, Joana o urso castanho fofinho, a comer mel e corn flakes, enquanto as amigas falam sobre a vida e o amor e tudo o resto. "Passa-me as bolachas se faz favor!". Não sei como, a conversa veio parar a mim e a Lacerda soltou um: "Sim, mas tu és COMPLETAMENTE louca." - riu e depois continuou com um ar mais sério - "Acho que ninguém consegue realmente acompanhar essa loucura." - Para me defender apontei para o Zé, que dormia no sofá como se o caos não o envolvesse, mas ela continuou - "Nem ele Ju, ele está lá quase, mas nem ele consegue perceber-te". Quis perguntar mais sobre isto, mas não perguntei porque acho que não devemos mostrar demasiado narcisismo numa conversa com outras pessoas. Mesmo assim gostava de entender o que raio quis ela dizer com isto. Assustou-me na verdade esta conversa, a possibilidade de nunca ninguém conseguir acompanhar-me, nem mesmo o Zé. Acho que realmente ninguém me entenderá. Acho que não conheço uma pessoa no mundo que saiba realmente quem eu sou, sem ser o Zé, e, o simples pensamento de que nem ele consegue entender-me a 100%, assusta-me. Faz-me sentir sozinha. Quem sou eu para estas pessoas? Ser louca é bom?

O Aurélio diz que sou a pessoa do grupo que mais facilmente alcançará a felicidade, "és e serás sempre a personificação de tudo o que é a felicidade neste mundo" ele diz que a minha rede de luzes é tão complexa que nunca ninguém a vai conseguir decifrar e que eles só conseguem tentar acompanhar, adoro este discurso, e talvez ele tenha tentado dizer o mesmo que a Lala. Mas continuo a não entender. Não sei, estou tão à toa.

Sem comentários:

Enviar um comentário