O tempo passou. É estranho. Se alguma vez me perguntassem se eu voltaria atrás sei que a minha resposta espontânea seria não. Não quero cair em ilusões, tudo o que eu quero é costruir algo meu, conhecer-me melhor. Estou algo agitada hoje, a necessitar de movimento.
Ontem fui para o café com o pessoal para celebrar a entrada do Justo nos 22. Fiquei muito feliz de ver toda a gente, eu naquela euforia minha, estava a 200 à hora para variar. Feliz com o aniversário da minha pessoa, mais do que se fosse o meu aniversário. Aquelas pessoas têm aquele efeito em mim.
Tenho-me perguntado se estou a falhar. Se há alguma parte da minha vida que esteja a falhar.
O Nuno beijou-me no outro dia e não voltei a dizer-lhe mais nada porque sinto repulsa ao estar com ele agora. Aquele típico dilema é o Nuno. Eu gosto mesmo dele, mas não me é humanamente ter vontade que me toque sequer. Só de pensar nisso o meu estômago retrai-se. Disse-lhe para parar e saí do carro. Quero ser amiga dele, mas não quero que volte a fazer isto, já lhe tinha dito que só queria ser amiga dele, ele não soube respeitar isso.
O Rafa confessou que me ía beijar mas que eu virei a cara. Não quero o Rafa no meu cadastro também, não gosto nada dessa ideia. Não gosto daquela necessidade de atenção constante ou do facto de me tratar algo como território ás vezes, como quando vamos ao ginásio juntos e persegue o rapaz que me ajudou a levantar a barra ou, quando estamos numa saída com os meus amigos e ele se senta ao meu lado e toca com o joelho dele no meu. Só me dá vontade de sair dali. Não quero estar com ninguém. Não que tenha medo, mas não tenho vontade, sinto repulsa em estar com quem seja neste momento.
Tenho algum problema? Tenho perguntado isso várias vezes a mim mesma. Como se não conseguisse deixar que ninguém me toque, nem querê-lo. Ter conversas com amigos e amigas sobre a vontade que eles têm de ir viver com alguém ou estar com alguém e sentir repulsa relativamente a coisas que são "para sempre". O Rafa, que apesar do que disse anteriormente, é das pessoas com quem falo mais abertamente sobre a minha vida, diz-me que tenho medo de relacionamentos, medo que entregar a minha independência a alguém. Ele diz que passamos muito tempo a falar sobre a vida dele porque eu nem sequer partilho as minhas coisas, as coisas que eu penso realmente com ele (não todas claro). Que eu sei muito mais sobre ele, vindo dele, do que ele sabe de mim, vindo de mim. Ele conhece-me pelo que eu não digo, como se os assuntos que fossem tabu para mim lhe dissessem coisas que nem eu própria sabia que ele notava. É muito bom ter alguém que veja isso, na verdade, e é por isso que gosto de ser amiga dele.
Ele diz que eu fiquei com a ideia errada do que é estar com alguém. Que tenho pouca experiência. Contou-me que gostava de começar alguma coisa com alguém mais a sério, se essa oportunidade se desse. Que era capaz de viver com alguém agora, começar a construir alguma coisa. Serei a única a achar que sou nova demais para pensar em conhecer outra pessoa? Serei eu a única a sentir repulsa cada vez que um rapaz me tenta de alguma maneira cortejar? Que não gosta que a levem a encontros feitos, que me paguem a cerveja ou o café, que tentem perguntar coisas sobre mim as quais nem eu tenho propriamente uma resposta neste momento. Que mesmo quando há alguma coisa que me faz gostar da pessoa, há sempre algo que parece errado. Gostava mesmo genuínamente de tentar entender se terei algo de errado. E se sim, o que tenho eu. Não me sei entender neste momento, não sei o porquê de sentir repulsa constante das pessoas.
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