Cheguei a casa, despi-me e deitei-me. Já deitada senti a revolta do meu estômago enjoado. Levantei-me de novo, dirigi-me ao lavatório e levei os dedos à garganta. Vomitei ácido gástrico com o conteúdo do meu estômago (vinho tinto maioritáriamente). Amaldiçoei o último shot de tequilla, a tequilla arrebata-me sempre. Senti-me automaticamente melhor e tornei a deitar-me, para acordar novamente horas mais tarde.
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O ano passado houve uma vez que decidi ir à Igreja. Fui assistir a uma missa. Não me lembro bem da situação, mas acho que entrei sozinha, a Lacerda estava já lá dentro e quando entrei deparei-me com umas escadas que desciam ao andar de baixo, onde o padre estava a dar a missa e à minha esquerda existia um corredor que dava para a parte de cima dos assentos. Conscientemente, escolhi esse lado, o esquerdo, para poder fazer respeitar a crença dos que têm fé em Deus. Não quis eu, ateia, desafiar a sua fé, mesmo não a tendo e mesmo não tendo a crença (tomando fé e crença como duas coisas distintas). Escolhi o último lugar possível, nem sei se aquilo era realmente considerado um lugar. Não estava sentada nos bancos de madeira, estava sentada sobre um banco de pedra incorporado na parede do edíficio e tinha algumas pessoas à minha frente, apesar de estar praticamente vazio, o espaço. Para além das pessoas, eu via o padre no altar e um quadro, uma pintura religiosa, talvez fosse Jesus, tenho a certeza que era uma representação de Jesus, mas não me lembro de muitos detalhes, lembro-me apenas de ter uma vaga ideia e da cor vermelha estar presente em larga escala nessa representação. Sentei-me a observar, a tentar ouvir a "palavra de Deus", mas sei que na memória já não tenho as lições daquela missa específicadas. Só me lembro de estar sentada a observar quando ,de repente, uma cara familiar entra pela casa dentro, acenei e, ao ver-me ali sentada, o Rodrigo sorriu e veio sentar-se perto de mim. Durante a missa, após a chegada do Rodrigo, tive a necessidade constante de chorar, lembro-me de ter tentado limpar as lágrimas, de forma a que ele não notasse, não sei mesmo se notou, mas se notou nunca me disse nada. Não sei porque estava a chorar, talvez fosse o acumular de demasiadas emoções, durante aqueles tempos. Existe durante a missa, uma parte, onde as pessoas se cumprimentam e desejam "paz de cristo"(?) umas às outras, o Rodrigo deu-me um abraço, não sei se ele chegou a saber, mas consolou-me, ele que tem uma "alma" tão alegre e sem "maldade".
Tenho um certo receio e nunca falei sobre isto, até porque os crentes interpretariam este momento como um milagre e os ateus, como se de um momento de loucura se tratasse. Não há ninguém que eu conheça que fosse entender aquele momento, até porque íam tentar fazê-lo, tentar entender, tentar explicá-lo e é uma coisa que eu própria não sei explicar. Não acredito em Deus, nunca acreditei e não irei acreditar, muito menos fé ter em tal figura. Não se trata de Deus. Foi o consolo que eu precisava, talvez. Talvez seja simplesmente a pureza do Rodrigo. É tão raro existir uma pessoa sem intenções e ele simplesmente não as tem, ou se as tem, são intenções que não "magoam" o outro em detrimento do seu bem-estar.
Ontem ofereci cerveja a duas freiras, rindo-se, perguntaram-me se a cerveja que eu estava a oferecer tinha álcool no seu teor, respondi que sim e elas riram-se e uma delas agarrou no meu braço com força, disse-me que havia "lá [não sei onde] uma [freira] que adorava cerveja" mas que não estava certo eu oferecer só cerveja com álcool. Sorriu e desejou-me tudo de bom. A forma como me agarrou fez-me querer chorar. Quis abraçá-la e quis chorar. Quis chorar tudo o que havia a chorar. Eu que não choro há tanto tempo. Tentei sorrir-lhe da mesma forma como ela me estava a sorrir, daquela maneira tão pura. Não sei. Pareço louca?
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