Sei bem que está na hora de me começar a mexer. Há algo em mim que não me deixa estar aqui por estar. Estou novamente com vontade de fugir. Há muito tempo que não sentia o murro no estômago que me fez sair ontem de madrugada com o objetivo de vaguear pelas ruas do sítio onde moro. Ora meio a correr, meio a andar, fui a ouvir música - não qualquer música - aquela música que eu achava que me tinha curado. Aquele albúm que continuo a devorar como se fosse a primeira vez que o estivesse a ouvir. Desde que comecei a aprender a estar sozinha que a música tem um papel muito importante. Mas voltemos por agora à deambulação:
Saí de casa, como disse, porque o aperto no estômago se tornou demasiado intenso, a vontade de querer respirar livre sem o conseguir realmente fazer, apesar de nada me impedir, toldou todo o meu ser. Vesti as calças, calcei os ténis e saí à rua. Já na rua, andei e corri, como referi. A rua estava vazia, das torres altas viam-se luzes acesas das janelas, nos apartamentos, apresentavam-se sem uma real ordem, na dispersão que a rotina individual e coletiva humana se dispõe.
Fiz a minha volta grande e uma volta mais pequena, queria ter a certeza que passava, em todas as voltas, no parque e no terreno abandonado com vista para a foz do Tejo, pois são esses os poisos da minha preferência. Na segunda volta, avancei em direção à porta do parque e, a partir dali, fui a correr até aos baloiços, fui a correr como se ninguém me pudesse ver. Já não andava de baloiço há pelo menos seis meses.
Sozinha, sentei-me no banco pendurado, coloquei as mãos nos ferros e comecei a balancear o corpo de forma a promover o movimento pendular do baloiço. Dos meus auriculares, a música saía em direção aos meus ouvidos, para que as vibrações sonoras fossem interpretadas pelo meu cérebro e, para que por fim, eu lhes pudesse chamar música. Sou uma criança. Deixei-me levar pela sensação de adrenalina leve que o balançar me provoca no estômago, esquecendo a sensação (o murro) anterior. O céu, escuro, tinha pequenas nuvens que o esfumavam e a lua nele brilhava, como se surgisse da neblina. Sorri sozinha tantas vezes quantas cócegas senti na barriga, sorri também para a imagem do firmamento naquele tilintar de notas eletrónicas musicais. Ajudou-me, mas não acalmou na sua totalidade os meus apoquentos.
Não estava à espera de me sentir assim. Voltar a sentir aquela sensação, querer respirar e não o poder fazer. Achei que estava tudo bem, fui para tão longe. Não fui longe o suficiente? A distância é um conceito abstrato. Quis voltar a fugir. Quis pegar em mim e marcar outra viagem, quis fugir para não ter de lidar com todo este sentir. Quero fugir. Quero agora. Sou uma criança.
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