Hoje cheguei a caminhos importantes de definição. Não no sentido de definição de futuro, mas sim, na trémula definição individual.
Estou finalmente a ler o Livro do Desassossego (como já se fez notar), vejo no autor um Eu, sem me atrever a comparar-me a tal figura, a Pessoana. Porém, admito rever-me e identificar o meu ponto de vista em certas passagens, ou na interpretação que faço delas.
Desassossego sempre foi a palavra perfeita para me definir, há anos que me agarro às suas sílabas com as suas consoantes tão acentes na busca de conforto e lamento. Como se de uma sentença se tratasse, vejo tanto no seu significado, como na sua dicção, a minha própria imagem espelhada - sou um total desassossego. Não haverá paz que acalme as minhas tormentas, não fosse a minha vida o extremo de sentimentos e pensamentos que é. Sou eu um ser da contemplação quando busco o balanço, a observação de gestos em que me refujo para buscar o que distingo como equilíbrio. Equilíbrio esse que não tenho.
Voo muito alto, dou saltos como se fosse catapultada por uma geringonça gigante invisível, que me faz voar alto como ninguém, abraçada na insanidade que a felicidade a cima da felicidade regular, aquela que só eu sei sentir, me trás. Depois do voo de catapulta, o impacto no chão, esse, é mais doloroso que a própria dor. Ao embater na terra, no solo frio, dotado da escuridão mais negra familiar da pior e mais profunda cegueira, consigo cavar o buraco mais fundo de todos e enfiar-me lá para dentro em posição fetal, despida, com a pele, que outrora incólume, se encontra desta vez cheia de feridas fundas abertas, engasgando-me no sangue que ficou acumulado nos meus pulmões, não respiro. [Drama]. Até ao dia em que me curo, me levanto e me preparo para correr e dar entrada na próxima catapulta, cada vez mais elevada, prometendo uma queda tão ou mais acentuada como a sua subida.
Sou eu esse Desassossego que de tão feliz ser, o ser se torna miserável.
Terá alguém o antídoto para terminar com este meu desassossego? É esse desassossego capaz de fascinar muitos e de afastar outros tantos, senão os mesmos. Esse desassossego que me faz precisar de toda a gente, sem precisar realmente de ninguém. Essa perturbação, inquietação constante da febre que busco, a febre de viver, de sentir. A busca das emoção altas, a busca do sentido da vida, ou o aproveitar do mesmo. A minha droga são as emoções, delas vivo, com elas salto, com elas danço na insanidade tresloucada da minha doença. A obsessão pela vida, na divisa que a separa da morte.
Eu que me defino, com as minhas próprias palavras, usadas por outros, como metamorfose ambulante. Vadio o meu sentido de deambulação, sem objetivo ou fim último, pelo menos que se defina como único, porque intenções, dessas tenho muitas, mais do que qualquer um admitiria ter, porque fica bonito esconder a vontade. É bom aparentar ser livre de vontades, livre de motivações egoístas, mas não somos todos egoístas? Não será o lema da sobrevivência o narcisismo? Para quê escondê-lo aqui? Sou eu sim, sou eu narcisa.
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