Ontem o Nuno veio ter comigo, agora tem carro. Ficámos à porta da minha casa estacionados durante várias horas a falar sobre as coisas mais à toa. Ele fala imenso. Não me importo. Lá esteve a mostrar-me um monte de bandas de todos os anos, de todos os tipos, com aquela aquidade musical que tem de ser músico. Já o Luís dizia que os músicos são toda uma categoria especial.
Estava eu tão taciturna ontem, a viver no contínuo ciclo que já sabemos que vivo. Mas não sabia que tinha saudades dele. Apeteceu-me ficar ali no carro enquanto ele me dava festas na testa e no nariz, a ouvi-lo falar até adormecer. Não estava à espera de me sentir assim. Ou quando ele referiu que tinha estado com uma rapariga no Porto, para onde quer ir morar, não esperava esta reação minha mas não gostei disso. Fez-me confusão a hipótese de ele estar com alguém, por motivos que ainda não quis pensar bem sobre eles. Talvez seja um daqueles paradoxos, quero que me queiras, mas não quero querer-te.
Agora oiço Bon Iver. Foi o Nuno que me passou os albúns todos por We Transfer, as mesmas músicas que ouvi em Leiria quando lá estivemos e eu tive uma pequena recaída no estado de espirito e adormeci na mesa de bilhar, ou quando toda a gente tinha saído para ir à praia e eu passei o dia deitada no colchão de chão que estava aos pés da cama grande, a reviver a noite que tinha acabado de ter, uma e outra vez.
Leiria vem-me à mente tantas vezes. Este ano foi o melhor ano que habita a (minha) memória. Revivo esses momentos em busca de sentir tudo o que senti, altos e baixos. Os copos de vinho ao luar no deck de madeira, acompanhados por cigarros e conversas que são raras e que têm valor. Estar completamente apaixonada, com todos os sentidos à flor da pele. Eu estava sozinha e feliz, num momento de auto-contemplação que veio com a bebedeira, era Verão pois e estava a chover. Estava a pensar "Está frio, estar a dançar no terraço é tão nonsense e tenho as meias molhadas, mas adoro esta música". E comecei a saltar e a rodopiar, completamente sozinha, com o chapéu de marinheiro na cabeça. E depois fui interrompida. E gostava de ter estado menos alcoolizada, gostava de me lembrar de mais coisas, só sei que acabei a noite nua a tentar arranjar a cama da Lacerda, a empurrar o estrado contra a estrutura enconstada à parede e que quando finalmente a conseguimos encaixar, este arranjo manteve-se por apenas 30 segundos, desfazendo-se com um estrondo que fez com que a casa inteira se tivesse apercebido que a cama já não existia da mesma forma. Acordei de manhã envolta em gargalhadas e bocas vindas de toda a gente, o Justo a querer tirar fotografias ao que outrora havia sido uma cama, a rir descontroladamente com a Nelas. E acordei para uma Mariana Lacerda zangada, e com razão, a dar-me um sermão como se eu fosse uma criança apontando para os estragos. 10 anos hão de passar e eu vou continuar com esta marca na minha imagem. A culpa será para sempre minha.
E agora aqui estou, aqui vou estando, a reviver esse Verão, sem querer sair dele. Não estou a conseguir passar à frente destes momentos. E começa a ser problemática a nostalgia.
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