sábado, 14 de outubro de 2017

Sexta-feira feliz.

Já é sábado na verdade. Ontem, num rodopio de folhas, projetos e conversa à português, desengonçada, sem um fio condutor, interrompida por histórias atiradas para o meio, sem seguir um rumo ou um objetivo, mas com aquele sentimento de "nós sabemos o que estamos a fazer", eu e a Bea entramos na organização do festival de música portuguesa macaense - "Lusofonia". Descrito pelo Luís e pelo Outro (típicos músicos de meia idade, queimados do cocuruto até às unhas dos dedos dos pés, fumadores mais natos que os próprios filtros dos seus cigarros) como o festival dos desesperados - o único que existe nesta terra. Escondidos durante todo o ano, saem da toca uma vez por três músicas - desde o Elvis de Macau até ao Samba Brasileiro, tudo passa naquele palco.
Do festival em si, muito ouvimos nós falar, é a festa do ano para todos os portugueses e para muitos ocidentais e mestiços, brasileiros e angolanos... É quando também nós saímos da toca e celebramos o facto de não sermos chineses, esquecemos a estupidez do Moonfestival - festa estranha que não percebemos bem a sua origem - a confusão da cidade a cair aos pedaços e a reconstruír-se da noite para o dia em alicerces de bambu, a atitude de cavalos com palas nos olhos, pouco flexíveis, que estes quase indígenas tomam, diferentes de todas as nacionalidades do mundo, e aqui porém, são a maioria e nós os extra terrestres.
Um festival para extra terrestres é quase como uma festa para aqueles grupos de populações especiais - vamos juntar-nos todos porque somos atrasados mentais, andamos em cadeira de rodas ou sofremos de uma doença genética muito grave e isso faz de nós únicos - ser português é quase como nascer um anão por estas bandas.
E se a saudade é o motivo principal e o desejo de identificação nacional o motivo secundário, a promessa de folia e celebração, chouriço, sangria, caipirinhas e convivío são o motor condutor que leva tantos marmanjos a reunirem-se para celebrar a sua unicidade.
Estou na verdade muito contente por fazer parte desta celebração, ainda para mais quando percebo que estou dentro de todo o processo, faz-me sentir viva.

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