Sentei-me agora para escrever descobrindo que não resta muito para dizer. Podia contar como vai o meu dia a dia. As coisas que tenho feito, as coisas que não tenho feito. As coisas. As coisas.
O meu eu todos os dias se refúgia em pensamentos silênciosos que eu oiço com uma alta clarividência, eu oiço em voz bem alta, bem alta essa voz que será por ventura minha.
Fico presa aos meus pensamentos, ao meu silêncio ruidoso, à minha inquietação interior. A vontade de ficar, a noção de transparência que tomo. O sentido de poder ficar aqui a observar tudo em silêncio. Escrever no escuro, mensagens que só eu posso ler, só eu posso interpretar. Existirão sempre coisas em mim que ficarão seladas, coisas que talvez até eu, no poder que me garante a minha identidade própria e consciência individual, não sei. Pergunto-me frequentemente se valerá a pena viver mais. Já vivi tanto e viver dá tanto trabalho. Eu sou feliz. Mas sou frequentemente inundada pela vontade de acabar com tudo por esse mesmo motivo. Se já sou feliz porque tenho de continuar a existir? Porque não poderá acabar a minha história num "foi feliz para sempre", daqueles que colocam a existência da personagem numa total suspensão de si mesma. Ser "feliz para sempre" é um deixar de existir contraditório. Não uma suposição, mas sim uma certeza. Deixar de existir disfarçado. Também eu me quero perder na existência desta maneira, navegar nos meus próprios pensamentos sem ter de me ocupar com outras atividades que me tirem o raciocínio. Quero agora vestir-me e sair sem rumo de casa, sem ter de conversar com ninguém, fingir-me interessada na vida do outro, parar de fingir que não estou na verdade a pensar somente em mim mesma no que sinto.
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