quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Carta ao desconhecido

Olá. Sou eu, a Joana. Não sei que horas são aí. Não me apetece fazer a conta. Não sei quem és, não sei o que fazes ou o que me leva a falar finalmente. Talvez vás achar esquisito. Estranho. Talvez vás comentar com alguém que te escrevi, levantar as sobrancelhas, rir falsamente, dentes fechados, soltar um "tssss" entre dentes (como aquele pedido no Instagram da Inês Miranda que ainda terás certamente pendente).
O que terei eu para te dizer que não tenha já dito? Nada pois. Pois nunca nada é suficiente. Agora és uma realidade dispersa e embutida na memória e a só ela associada. Não aches estranho. Não aches que quer dizer mais ou menos do que quer dizer. É só uma carta. Imagino-te estagnado na tua realidade, nesse retângulo de terra português a fazer as coisas que te deixam satisfeito. Feliz, confortável... E aborreço-me. Sem te insultar, nada disso, não é um insulto. Antes pelo contrário, és tu. 
Hoje, em pensamento, enquanto cruzava de ferry as ilhas em Hong Kong, passaste-me pela cabeça. Perguntei-me como raio tinha ido parar ali. Hong Kong há um ano atrás não estava nos meus planos. Nem sabia onde estava no mapa. Nem sei o que tinha planeado. Mas por ti, tu... Quebraste toda a realidade que me rodeia. Tudo completamente destruído. Aquele caminho que eu ía seguir desapareceu porque tu entraste nele. Depois de muito tempo a tentar encontrar quem sou, apercebi-me: nunca estive tão perdida em mim mesma. Não sei quem sou. Não me reconheço. Não me revejo. Não sou Eu. Sou fruto do impacto que tiveste em mim. E é estranho. Obrigada. Por tudo o que fizeste por mim. Obrigada por tudo o que me deste, honestamente. Obrigada pela coragem, por me ensinares a seguir o meu caminho, o meu caminho estranho e indefinido. Obrigada por teres estado na minha vida, sem ti nada disto seria real, seria um desejo. Não sei o que queria para mim antes, mas sei que não estaria aqui a seguir um sonho que não era meu antes se não fosses tu.
Pergunto-me se algum dia nos voltaremos a cruzar na vida, se voltaremos a ser amigos. Pergunto-me se algum dia iremos olhar um para o outro e aceitar que de facto um dia existimos, sem o pesar de tudo o que tivemospassámos. Pergunto-me se tive tanto impacto em ti como o que tiveste em mim. Se o tanto que mudei, em ti também surtiu esse efeito a minha presença. Mudaste? O que mudou? O que farás diferente? O que procuras hoje? Quem és tu agora que passei por ti? Fez o teu caminho uma volta tão grande como o meu fez? Quem és tu para mim hoje? Quem sou eu para ti hoje? Memória? Apenas uma lembrança? Não? Sim? Não sei. Tenho saudades do que costumavas saber sobre mim, da maneira como me entendias. De rir. Não voltava atrás por nada, mas sim, saudades.

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