Tenho medo. Medo de onde me ando a meter. Tenho medo de perder o que sou e de me comprometer outra vez com alguém. Medo de perder os meus amigos e a minha identidade. Tenho medo de viver demasiado concentrada noutra pessoa sem conseguir concentrar-me em mim mesma e em todas as coisas que quero fazer. Não sou boa em compromissos. Detesto horários, datas, trelas, estar presa a combinações. Só quero sair deste espaço, neste tempo. A minha cabeça está demasiado confusa e todos os meus pensamentos estão demasiado pesados, parece que no espaço de dois anos envelheci dez. Estou tão perdida. E irritada. E tão irritada com isso. Não quero estar presa. Detesto este pensamento. Não quero dever explicações de X a Y a ninguém. Não quero aproximar-me mais e, ao mesmo tempo, quero. Porque depois existe algo em mim que me deixa ficar. E nem sei de onde veio, mas sei que é um misto de emoções. Aquela sensação no estomâgo que me faz gostar de estar, que me assusta por gostar dela, e aquela calma, aquela sensação de puro sossêgo que me abraça, como se estivesse de olhos cerrados a receber no corpo a luz acolhedora do sol, como se estivesse a receber o abraço do primeiro café quente e longo da manhã. Tenho medo de enfrentar aquilo no que me estou a meter, porém sei que estou a deixar que me fique intrínseco e sei, que dentro do enorme desconforto que cresce em mim, cresce ainda uma sensação de naturalidade tal que não sei se me vou conseguir separar dela.
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