sexta-feira, 14 de abril de 2017

Ontem eu senti a sua agitação. Não sei porquê, eu sei que não está bem, não a 100%. Pode estar bem ás vezes, mas eu sei que ontem estava mais ansioso. Sei que ontem estava a pensar em mim. Pensei mandar mensagem. Estava a precisar de um abraço. Tive medo que achasse que queria algo mais dele. Tive medo que achasse que ainda preciso dele. Mas só queria um abraço. Costumava saber acalmar-me. Costumava pegar nos meus dramas e simplificá-los como ninguém. Por isso queria um abraço. Para descomplicar a minha cabeça. Imaginei que dissesse uma qualquer frase, uma frase que me desse alguma claridade, algo que demonstrasse a não importância dos meus dramas. Engoli o orgulho e continuei simplesmente a minha vida. Não é isso que fazemos? Tenho uma memória favorita dele. Dentro das muitas memórias favoritas. Estava chateado comigo, eu estava a estagiar, cheguei a casa tarde. Estava cansada, estava devastada. Ele estava a dormir. Esta memória não é clara na minha mente. Ás vezes parece que foi um sonho mas eu sei que foi real. Eu deitei-me e ele estava na outra ponta da cama, estava chateado comigo. Não me lembro se falámos antes disso ou não, sei que tomei um duche e fui-me deitar. E só me lembro de me deitar sem o querer acordar e de começar a chorar, aquele choro com gritos, com desespero, pontapés, aquele choro de pânico. Não foi de todo um choro controlado, não me lembro de ter controlo sob as minhas ações físicas, não foi de todo um choro normal. Era pânico, stress e cansaço acumulado no seu mais puro estado. Ele estava chateado. Repito. Mas engoliu o orgulho e agarrou-me até eu me acalmar. Simplesmente prendeu-me nos seus braços e esperou que eu sossegasse. Eu sosseguei. Foi das coisas mais humanas que alguém fez por mim. Nunca contei isto a ninguém. É a minha memória favorita. Aquela que guardo no coração. Aquela que mais adoro. A minha memória mais escondida e mais profunda. Guardo esse sentimento de sossego debaixo da pele. E é esse sentimento que me acalma quando estou agitada. E sinto que estou a dar a parte fraca ao escrever isto, não quero que ache que significa mais do que significa. Agradeço o gesto que teve comigo nessa noite. Marcou-me para sempre.

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