quinta-feira, 13 de abril de 2017

Por estes dias tenho estado no limiar do lusco-fusco. Naquele tempo suspenso entre o dia e a noite (parece suspenso, não quer dizer que o seja). Sinto que sou influênciada por uma tristeza intermitente que se levanta em ondas de poeira alta, tapa-me a visão e a noção, qualquer que ela seja, de cumprimento de objetivos. Pergunto-me se serei um bom ser humano. Não no sentido de "boa pessoa", mas como ser humano em si. Serei realmente boa a ser? Saberei estar? Ser?
Pergunto-me onde falharam os meus pais na minha educação. Apesar de serem pessoas relativamente amáveis, importadas... Eu sou um bicho do mato. Criaram um ser frio e desconfiado. Um ser pouco confiante que passa o dia a olhar para si e a perceber que nunca vai ser o suficiente. A minha preocupação o dia todo é ridícula.  Fecho-me em mim mesma, não sou simpática. Há quem confunda isso com timidez, mas provavelmente sofro apenas de ansiedade social. Eu acho que vem do pai. Ele que é tão inteligente e superior a tantas pessoas, tem vergonha de agir á frente de estranhos, julga toda a gente antes de qualquer coisa. Depois temos a mãe, completamente louca dos cornos em casa, á frente das outras pessoas é o ser humano mais adorável de sempre, fica preocupada quando alguém morre, dá sempre os parabéns a quem faz anos e chama família a quem mora a 8 000 km de distância porque encontraram uma fotografia antiga de um irmão de um tio, que morreu á 40 anos. E ainda me estava a perguntar onde tinha falhado a minha educação?
Estes dois senhores fizeram duas filhas loucas, pouco importadas com a definição familiar ou de amizade, pouco importadas com o mundo exterior ou o que os outros pensam se comeres um iogurte com um garfo ou se estiveres a usar uma meia rosa e outra branca. Pouco importadas com a formalidade de ligar a alguém que não vês á 10 anos mas ainda assim insistes em dar os parabéns e quando alguém da familía dessa pessoa morre apareces no funeral e insistes que tens de marcar um café para breve (coisa que não vai acontecer, toda a gente assume). Nós somos de um mundo diferente. Pergunto-me se eles falharam, os nossos pais.
A imagem que tenho de mim própria, sou uma rapariga feia e inteligente. Tenho uma moça no nariz e os dentes tortos, tenho olheiras negras e fundas e uma testa anormalmente gigante, um dos lados do lábio maior que o outro e tenho um rabo no queixo. O meu corpo também não é bonito, tenho umas pernas compridas e já mais musculadas, a barriga fina na cintura e larga nas ancas de uma forma claramente demasiado acentuada, braços gordos que parecem salsichas e a coluna torta, também não tenho mamas e tenho bastante pele das perdas e aumentos de peso. Pergunto-me o que é que alguém que ache me minimamente atraente vê em mim. Acho que já abracei a minha feiura. Já não me importo assim tanto com isso como costumava. Faz parte.
Agora o resto, o resto anda a interpolar todo o meu ser, o que sinto e o que quero. E não sei o que ando a fazer neste crepúsculo, ás vezes apetece-me mesmo morrer. Porque quando se é como eu, sabe-se. Sabe-se que tudo é em vão e que nada realmente existe.

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