segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Retrospetiva

Sem querer dar a esta entrada grande contexto, tenho andado a indagar-me sobre o verdadeiro impacto do amor na minha vida.
Na verdade eu sei que não fui feita para amar. Não, nada disso. Na verdade pensar naquele amor dá à minha mente uma imagem clara e distorcida (algo apagada na verdade) do que era ser Eu na altura, e, apercebo-me que fui feita para me entregar completamente à paixão. Todo eu um ser que vive intensamente as paixões da vida. Tudo o que senti alguma vez por alguém foi intenso de me fazer sentir implodir. Todos eles, desde que me lembro do que é estar apaixonada.
Claro está que a primeira relação a sério que tive me levou à bancarrota sentimental, de tão acentuada que era a curva dos meus batimentos cardíacos em todos aqueles momentos. Amar é tão bom. É um sentimento, para mim, completamente desenfreado e incondicional, deixa-me zonza, de rastos, deixa-me perdida, a pairar sobre os meus próprios pensamentos. A paixão de amar deixa-me louca, a falar sozinha no meio da rua, a esboçar sorrisos entre dentes, os meus olhos perdidos não focam e o meu cérebro parece não pensar na sua total coerência. Mas não fui feita para amar por muito tempo. Não fui.
Olho para trás e percebo que a minha parte favorita de amar é a sensação física desagradável provocada pelo desgosto amoroso.
Quando eu senti o meu coração pesar, uma ansiedade que não me deixava sair de casa durante dias a fio, a obsessão em continuar a "gritar" a minha paixão aos ouvidos da outra pessoa, a loucura que senti instalar-se no meu cérebro. O pânico. A falta de definição em mim mesma, no que eu seria até à dúvida da minha própria existência.
Eu contava os dias. Eu chorava todos os dias devido ao mal desalmado que era perder a outra pessoa. Eu chorei e chorei, eu gritei e às vezes bati com a testa na parede completamente possuída por aquele sentir.
Depois dos berros, depois do grito, do meu grande grito... eu calei-me. Aceitei. Comecei a procurar ocupações que me fizessem esquecer o ciúme, a raiva e todo aquele amontoado de sentimentos. Ocupei a cabeça de tal maneira...
Olhando para trás percebo que me apaixonei novamente, apaixonei-me mais pelo desgosto do que pelo que tinha antes. Adoro o sofrimento, adoro o sentido de busca pessoal, que me faz tremer, arrepiar e levantar da cama com um sorriso de orelha a orelha, o sorriso apaixonado de alguém que não deve e não teme. Ouvia música triste enquanto as minhas gargalhadas se tornavam o prato do dia e ecoavam por toda a parte, por todo o lado. Querer correr e correr, sem parar, alcançar o infinito. Apaixonar-me mais intensamente por algo que não era material.
Um ano depois, estava num ferry, a 11 000 km de casa, em Hong Kong, a olhar para o segundo edíficio mais alto da China. É esta paixão que me faz correr. A destruíção completa de um eu, para o crescimento em pico de alguém que alcança todos os seus pequenos sonhos. Amar o desgosto. Amar o amor enquanto ele morre e até esse mesmo amor estar morto.


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