Estou sentada a beber o meu café e à espera que o pequeno-almoço saia do forno. Estou magoada. A Lacerda numa das conversas que tivemos confrontou-me com a falta de humanidade e simpatia que o João Cruz tem. Acho que é uma injustiça eu ter chegado a um ponto na minha vida onde era quase tão miserável como ele, por ele. Suponho que me tenha feito demasiado mal. E fez. Foi muita infelicidade. Houve coisas muito más que aconteceram. Coisas que me impedia de fazer, coisas que detestava que eu fizesse. Possessividade. Não me deixava ser eu. Não aceitava quem eu era para as outras pessoas. Talvez não sempre, mas tenho a sensação de ele me querer fechar só para ele. Fechar-me numa sala e alimentar-me de sentimentos negativos, semear em mim o medo, a solidão... É nisso que hoje penso, quando penso nele. E sinto que talvez seja injusta esta imagem, talvez tenham existido coisas tão boas que apagavam as coisas más... Acho que pela primeira vez em tantos meses vejo nos meus olhos e sinto na minha pele, que não quero voltar para ele, que não ponho em hipótese regressar à sua pessoa. Penso nessa imagem e imagino o meu espírito morrer envenenado, entrelaçado numa cobra gigante e possessiva. O João é uma pessoa desumana, sem humanidade, miserável, contente e divertida, para sempre destinada a viver miserável, até encontrar alguém, sugar toda a humanidade dessa pessoa, tirar-lhe tudo e fazê-la viver para ele. É o que ele faz. Estou mais que vacinada contra isto. Imagino-o a gozar com esta descrição, quem sabe a fazer quotes disto, que talvez lhe desse satisfação por me odiar, coisa que não é inteiramente verdade, ele não me odeia assim tanto quanto pensa. Ía odiar-me mais se soubesse o que fiz, mas não o fiz para me vingar. Seria incapaz de o fazer por esse motivo. Simplesmente há coisas que acontecem que não controlamos. E eu sou demasiado boa pessoa para me vingar. Não quer dizer que o respeite, longe de mim. Não consigo respeitá-lo. Já não. Respeito apenas a imagem que tenho dele.
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