Queimei uma carta que ainda não tinha conseguido deitar fora. Sei que não a tinha queimado se não o quisesse mesmo fazer. Sei que não o fiz para poder deixar de me lembrar. Queimei-a porque não me lembro. Não me lembro de como me sentia. Não me lembro do que senti ao recebê-la e não me lembro do que é sentir falta desse momento.
Queimei a carta sem precisar de a ler uma última vez. Se na verdade a quisesse ter guardado tinha-a lido antes de a queimar. Foi a minha vontade, foi a naturalidade do sentimento de desconhecido, que adveio com a carta, que me deixou queimá-la.
Queimei a carta porque quero deixar de sentir que preciso de fazer teorias sobre o amor, porque quero simplesmente deixar o vento levar as cinzas da carta. Queimei-a talvez, porque já não devo e por não dever, não temo. Quero separar-me de todo o ódio, quero separar-me de todo o amor. Mais do que querer fazê-lo, estou a fazê-lo. Não quero sentir-me zangada. Não preciso disso, não vai acrescentar nada à minha existência. Já vivi no escuro demasiado tempo, demasiados dias e não estou zangada. Estou simplesmente a preparar as minhas malas até Novembro. Que é tudo o que tenho planeado na minha vida. E é tudo o que preciso planear. Depois de Novembro é um abismo, na altura saberei o que fazer.
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