Ontem fui à missa, sim à missa. Cheguei e sentei-me na parte de trás da Igreja, no cimo no último banco, precisamente no centro, não via muito, apenas as pessoas que estavam sentadas umas filas à minha frente, na sua maioria pessoas de idade já avançada, que vinham aos pares, amigas com amigas ou casais o então sozinhas, estas sentavam-se em bancos mais traseiros e acabavam por se isolar. No centro de tudo o que conseguia ver estava uma pintura do que supus ser Nosso Senhor Jesus Cristo. Com algum atraso, a missa teve início às 19:15 e iniciou-se com um agradecimento aos feitos do Padre Bernardo que celebrava no dia 1 ano de sarcedócio, mas que excecionalmente não poderia estar presente. E assim se dá o início do ritual, as pessoas levantam-se murmuram palavras ao mesmo tempo, alguém - uma velhota - cita dolorosamente as passagens da génesis, fala acerca do chamamente de Abraão, que aos 75 anos largou todas as suas riquezas e a sua aldeia para seguir e propagar a palavra de Deus, fizeram questão de associar esta atitude aos emigrantes portugueses e aos refúgiados. O cheiro a fraldas de incontinência arrebatava o ambiente e as músicas do coro soavam dolorosas e fora de tom na minha cabeça. Todo aquele levantar e sentar, levantar e sentar davam comigo em parva, sem que pudesse entender o porquê que levasse aquelas pessoas a estar ali. Não duvidando da fé delas, mas talvez da razão que as levava a praticá-la daquela maneira quotidiana e repetitiva. Se aquilo fosse considerado um culto ninguém levaria a sério o pôr 20 macacos numa sala a sentar e a levantar enquanto murmuravam "Graças a Deus" e "Amén". A meio da cerimónia vejo chegar um rapaz com uma pequena mancha de cabelos brancos na cabeça - Rodrigo - ao dirigir-se para a parte de trás da igreja eu aceno e com alguma pressa, já que havia chegado atrasado à missa, vem sentar-se ao meu lado com um "Vieste!". Ajoelhou-se na estrutura que serve para o efeito do banco da frente porque o momento assim o pedia. Ao levantar-se retira um lenço e limpa a cara ligeiramente suada, percebi depois que o tinha feito para me cumprimentar, uma vez que o momento seguinte seria aquele em que desejamos Paz de Cristo à pessoa ao nosso lado e a cumprimentamos. Durante a toma da óstia ficamos sentados no banco e mais cânticos se seguiram, num desses cânticos tive subitamente vontade de chorar e fiquei a lidar com essa vontade tentando que o Rodrigo não reparasse. Não sei de onde veio essa vontade, não teve nada a ver com fé, já que acho que seria para mim uma palhaçada acreditar em Deus, acho que o que quero é entender o porquê das pessoas terem fé, nada mais.
Em Macau é praticado o Catolicísmo, o Budísmo e o Taoísmo. Na sua maioria a população assume-se como taoísta. Ao entrar nos templos geralmente encontram-se 3 grandes figuras representando três dimensões de grande importância na vida dos crentes. A primeira figura e a mais imponente, o dinheiro, seguida da sorte e da saúde. Nos templos é costume encontrar-mos a presença de muitas oferendas aos deuses, comida, geralmente laranjas e maçãs. Num templo em Hong Kong demos de caras com um menu do McDonalds, incluíndo um hamburguer e uma tarte de maçã. As pessoas unem as mãos e fazem 3 vénias seguidas com rapidez, acendem incensos e pedem desejos em pequenos papeis bonitos. Acreditam na fortuna, na sorte. Acreditam que quem tem dinheiro tem tudo. Quão diferente isto se assume perante uma Igreja Católica onde deves "amar o próximo"?
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