9 de Dezembro
10:59 AM
Hoje adormeci no sofá. Ao acordar as 4 AM fui tomar um banho e o cenário da minha banheira fez-me pensar no João. Percebi que acabamos porque tinhamos de acabar, mas mesmo. Quando eu digo que a nossa relação já não era saudável, acho que a coisa ía muito para além disso. Lembro-me de como as coisas aconteceram.
Da Tall Ships à semana em que ele foi para os Bons Sons, aconteceu algo na cabeça dele, deve ser sido um instinto, algo lhe dizia que já não dava mais, já não fazia mais sentido, talvez até tenha estado com alguém, nunca saberei. Eu pressenti, quando ele regressou, que estava algo muito errado e de tão errado estar, eu não estava bem. E acabamos. Porque amar já não fazia sentido, eramos um disco riscado. Por muito boa que fosse a nossa música, cada vez que o colocavamos no gira-discos existiam partes que se tornavam dolorosas de ouvir.
Depois deste episódio e do seu afastamento repentino, tomamos a decisão sensata de ir para Leiria, acho que foi a melhor despedida que alguma vez podíamos ter tido e talvez devessemos ter tido isso em conta. Porque depois de Leiria o João deixou de ser o João. E tudo o que se seguiu a partir daí foi apenas o ainda retirar do prazer físico do que nos restava. Talvez na altura eu devesse ter-me afastado, quando soube que ele tinha estado com outras pessoas, dei por mim a perceber que já não o conhecia, acho que ele deve ter sentido o mesmo quando me viu a sair com mais frequência, também ele estava a fazê-lo, e mais que isso, ele não sentia necessidade de guardar tempo algum para mim, apesar de eu o fazer. Isto é natural. Depois de muita dor, dos meses que se passaram onde eu achava que não devía ter deixado as coisas acabar, apercebi-me que de facto o João tomou a melhor decisão que podía quando me disse que queria acabar. Acabou de forma feia, muito feia mesmo. Mas nunca acabaría bem, eu sabía isso desde que o conheci, porque ele prometia-mo mesmo sem saber.
Esta madrugada vi tudo o que se passou como algo bom, algo que deveras devia ter acontecido. Eu sei que era capaz de largar mundos e fundos na altura por ele e hoje entendo, que de todo não existe compatibilidade entre nós, eu estava moldada a ele. Olho para tudo o que se passou, agora com uma noção clara do que ocorreu, sem ser a visão bonita do amor perfeito. Finalmente consigo olhar para trás e aperceber-me do veneno que nos corría nas veias.
O João era possessivo, das coisas que mais me chocam é o olhar para trás e ver todas as férias que passei sem ele, quer o Algarve com os meus amigos da faculdade, Barcelona, a viagem a Sines na caravela e até mesmo quando estava a trabalhar no evento. Eu era obrigada a estar em constante tentativa de balancear o humor do João e o querer aproveitar a viagem. Ele nunca devía desconfiar de mim ao ponto de me fazer sentir culpada por ter ido. E de todas as vezes, eu era arrastada para mais uma discussão sem sentido ou fundamento, porque de todo eu era dele e não pensava em mais ninguém, ele devia ter sabido isso.
Para mim o auge do desplante foi, talvez, durante o período de estágio todas as birras que ele fez, de ter saído do portão de propósito para me chamar à atenção. De ter ficado insultado comigo por eu adormecer quando quería falar comigo, sem ter em consideração o ponto de exaustão em que eu cheguei.
Não posso dizer que tudo foi mau, não. Houve muitas coisas boas. Mas a Joana que conheço nunca se sujeitaria desta maneira a ninguém, nunca se colocaria em segundo plano e ele não teve a minima consideração por isso. Ao continuar nesta relação, eu estava a vender a alma ao diabo. Estava a magoar-me a cima de tudo, e, no fim, o João tratou-me a baixo de cão, eu acho que ele sabe isso. Mas atrevo-me a dizer que apesar de não ser necessário, ele fez bem. Eu preciso mais de mim do que dele. E eu sei isso agora. Claro que a cicatriz vai ficar para sempre e claro que ainda a sinto. Não sou de ferro. Mas hoje posso dizer que me afeto menos com as coisas que lhe dizem respeito, até porque não me dizem respeito. O João deixou de existir porque assim o quis, e se essa foi a sua vontade, assim lhe foi concedida.

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