Diário do Teu Esquecimento - Dia 7

27 de Novembro

7:18 PM

Não posso continuar assim, depois de mais um ataque de choro e sofrimento, acabei por ligar ao Zé que veio cá e esteve comigo a ver um filme.

Quando eu era pequena vi uma vez um filme de terror, estava naquela idade de acreditar em tudo o que os outros diziam e na escola começaram a contar histórias de fantasmas e espíritos que viviam entre nós. Era um disparate mas eu entrava em pânico e ficava com muito medo, era como soco no estomago em seco, um aperto no peito constante, o meu cérebro em estado de alerta definitivo, sem fome. Cheguei a ter tanto medo que passei meses sem querer dormir sozinha. Pedi todos os dias à minha mãe que adormecesse comigo, todos os dias durante meses a fio. Tive mesmo que mudar para o quarto da minha irmã e até aí pedia à minha mãe para dormir comigo. Esta história é verdade. E quando passou nunca mais pensei poder sentir algo tão semelhante.

Hoje, um soco no estomago, um aperto no peito, estado de alerta e falta de apetite preenchem o meu corpo. Não fiz nada durante o dia todo, falei contigo e comecei a sentir tudo de novo, o desespero, a tua não presença, o pânico total, o querer-te... O medo que senti hoje foi deveras igual ao pânico que o meu cérebro em pequena me transmitia quando não tinha a minha mãe a dormir ao meu lado. Soa ridículo. Assim que o Zé apareceu tudo apaziguou, vimos um filme e durante um par de horas fiquei bem, calma e serena. Tal como um bebé. Não posso deixar que os sentimentos ocupem o meu corpo. Eu já não tenho 10 anos. Eu não preciso de ti para sobreviver, eu não posso continuar com esta atitude. Está a magoar-me, estou tão triste.

Medo é algo irracional, eu tenho mesmo genuinamente medo, agora sei-o, aquilo que sinto é medo de estar sozinha porque me habituei a estar acompanhada. Tal como quando era pequena, eu tinha medo de dormir sozinha. A Bea foi-se embora, eu paniquei, o Zé chega eu fiquei calma, o Zé vai e eu volto a sentir-me agitada. Não estou bem. O meu sistema nervoso está a funcionar a mil à hora, estou a ser afetada por uma sindrome que não entendo, que não lhe posso dar nome.

O que se passa comigo? Estou assustada.