domingo, 19 de abril de 2015

Eu sou Joana Nunes, eu tenho quase 19 anos, quem sou não pode ser realmente adivinhado, eu não sei muito bem quem sou ou o que quero. Sei o que fui. Sento-me na cadeira do escritório, que pus na varanda, olho para o sol da tarde que me toca no lado esquerdo da face, na armação dos óculos, nos dedos mindinho e anelar e sinto-me aconchegada, oiço a música, é demasiado agitada para o meu estado de espírito. Os pensamentos correm à velocidade da luz da minha mente até aos meus dedos,  o que me leva a escrever no computador como se fosse uma louca e estivesse prestes a arrancar o teclado. Então mudo a música. Oiço uma música que já me tocou muito. Definiu uma fase inteira da minha vida. Oiço as palavras e entendo que a música em questão não me poderia ter dito nada. Mas dizia. Diz. Diz? Não.

Olho em direção ao horizonte e vejo todos os prédios que se estendem na cidade por detrás das estradas, é uma extensão enorme de edifícios que não cessa. Tantas casas e tantas pessoas, empilhadas em casas, algumas delas são felizes, outras nem tanto e algumas estão na miséria, quer dizer suponho, porque nunca realmente hei-de saber, nem quero. Pergunto-me se os outros vêm as cores da mesma forma que  eu, se se importam com as curvaturas, com os contrastes tanto como eu. Será que também anseiam chegar á perfeição? À comunhão perfeita entre as misturas de tons. Ansiarão por ver e sentir a beleza? O que é existir para os outros, será como existir para mim? Eu procuro as suas aprovações. Procuro entendê-los. 

A música mudou novamente, fiz paragrafo. Agora esta faz-me questionar em relação ao sol e ao quente que saí deste e me aconchega, são pensamentos mais pessoais, menos confusos, sem necessidade de resposta porque as sensações enchem-me. As sensações físicas fazem as minhas delicias psicológicas, o vento frio, o céu azul claro, não gosto desta cor, azul claro frio. É uma cor rídicula. Prefiro azul mais vivo, o céu está apagado. Falta de calor. Decisões. Decisões... Não tenho porque o tempo parou e não parou, para mim, neste momento. A vida não tem sentido e eu também não tenho vontade para o procurar. Para quê? Que vómito de emoções. Que mundo tão feio é este que vejo da minha janela, o céu, claro está, é feio e não combina com os prédios ou com a cor da relva, o sol está branco. Branco! Reviro os olhos. Branco como se de uma lâmpada económica se tratasse, se eu quisesse luz branca ia para a cozinha por amor de Deus. O som dos carros entra na minha música. Não é assim tão chato, mas mesmo assim não é agradável de todo.

O mundo é feio. É desconfortável. Pelo menos hoje.

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