Há duas noites conheci a Ana, a amiga do João, da Figueira da Foz. Estranhamente, ou não, tive uma impressão dela muito boa, uma pessoa simples e simpática que está bastante confortável para falar e que tem à vontade para isso, quase como se tivesse o dom da palavra, para monopolizar toda uma conversa e manipular os tópicos na sua mão, falando dos outros com o seu total controlo. Foi só uma primeira impressão. Gostei dela e fiquei chateada por ter a minha imagem marcada como a "ex", sou tudo, menos isso. Detesto ter a imagem do João na minha sombra desta maneira, não me deixando estabelecer contactos em branco. Tem de sempre haver e existir o estigma (talvez esteja a exagerar porque na verdade a tensão foi sentida em mim e não no ambiente). Adorava poder apagar tudo o que aconteceu, mas não posso. Após o conselho da professora de inglês decidi que começarei a estudar a Modernidade Líquida de Zigmunt Bauman - com a promessa de que ficarei a compreender melhor a realidade que me rodeia. Estou agora a imprimir os textos. Pedi o conselho ao João, mas acho que não o vou seguir uma vez que numa pesquisa me identifiquei mais com o propósito desta obra do que da de Freud. 232 páginas de liquid modernity, em inglês, para poder ganhar vocabulário importante. Já regrei a forma de estudo - 20 dias - cerca de 10 a 11 páginas por dia ou 13 dias 20-21 páginas por dia.
Pergunto-me se há dois anos teria aceite este desafio que me foi proposto pela professora e chego à conclusão que não. Lá está mais uma vez o João a pesar nas minhas decisões e a influenciar aquilo em que me tornei. Enquanto observo e ordeno as páginas que vão imprimindo, apercebo-me que antes tudo era fútil e tudo era pouco preocupante, não me importava com estas coisas, só queria ter uma página do instagram interessante e aprender técnicas de maquiagem e, se por um lado me sinto algo melhor com os conhecimentos e cultura que adquiri, começo a sentir o seu peso na minha vida e na minha cabeça. Começo a sentir que a ingenuidade era algo muito bonito e agradável de se viver com, sinto que sei demais e que não estou segura neste momento, como se se tivesse estragado parte da minha vida. E a minha cabeça está pendente entre os dois lados do tabuleiro, não sabendo se haverá de jogar pelos brancos ou pelos pretos. Sabendo que existem coisas na vida que têm de ser sabidas, mas que a consequência das saber é um trauma que deixará tudo num constante estagnar de dúvida, nunca saberei quem sou realmente, e a verdade nunca estará ao meu alcance, mas aquilo que souber tornar-se-á demasiado pesado e vou ficar mal psicológicamente, para sempre insatisfeita com a vida. Sinto a ansiedade pousar no meu peito e percorrer toda a circulação sanguínea do meu corpo rumo à insanidade. Odeio o que ele me fez, roubou-me o futuro e provavelmente a felicidade. Tenho medo que me achem estranha, tento esconder esta estranheza através de atitudes "normais" e conversas fúteis que provocam em mim uma vontade de regurgitar, acabando por evitar participar em demasia em conversas que não me levam a parte nenhuma. Se bem que entre estar em parte nenhuma ou ficar pendente em parte incerta, são duas situações que não consigo preferir nenhuma delas, sabendo que ambas me causam angústia. Já não sei quem sou muito honestamente, não até surgirem objetivos e metas para cumprir.
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