segunda-feira, 27 de março de 2017

As coisas andam estranhas, sábado o balde cheio entornou. Ainda não sei o que se passa comigo. A Bea, com quem me aconselho porque não confio em mais ninguém, diz que deixei as coisas acumular, contive tudo, transformei tudo em controlo, horários, organização lógica e relevante de prateleiras, esquemas mecânicos, de forma a conseguir abstrair-me de tudo. Cansei-me da lógica e deixei o descontrolo total estagnar. Horários loucos, loucas noites de nada, muitas saídas e muito negar de responsabilidades, "faço tudo o que quero e me apetece". Perdi todo o equilíbrio porque perdi a noção de equilíbrio.

Most people think of themselves as individuals that there's no-one on the planet like them, this thought motivates them to get out of bed, eat food and walk around like nothing's wrong.

Olho para mim e apercebo-me que me tornei num ser humano estranho. Ou que já era, mas que não estava cá essa noção de estranheza. Pergunto-me porque raio me concentro tantas vezes naquilo que sinto para escrever. Também sei que sou um pequeno génio. A forma como o meu cérebro repara nos detalhes que os outros ignoram, é o que faz de mim a pessoa que sou. Penso demasiado em mim própria? Por vezes incomoda-me o escrutínio que consigo fazer de todos os momentos e de toda a gente, em comparação com a falta de atenção que a mesma toda a gente tem sobre as coisas, acabo sempre por desistir dos outros porque eles não têm a mesma capacidade, acabo por fingir que não me lembro ou que nunca ouvi falar das coisas, eles simplesmente não entendem e pensando bem no assunto, não conheço ninguém que consiga ter o mesmo alcance que eu própria nestas coisas. Eu vejo tudo o que importa, mesmo fingindo que não vejo. Eu sei quase tudo. Mas se me perguntarem, não sei. 

Respiro fundo. Perco-me no som da música e vejo-me a ficar velha e louca. Aprecio as rugas que em breve ficarão marcadas na minha face, eu que sou criança e velha ao mesmo tempo. Vejo todo um conjunto de preocupações desnecessárias marcarem-me a testa, um aglomerado de felicidade marcar parênteses no canto dos meus lábios, onde vinca o meu sorriso, as olheiras mais fundas, mais negras e as histórias que os meus olhos esconderão de todas as coisas que viram, observaram e, que a memória, não assim tão frouxa quanto isso, guardou. Adoro esta imagem de mim mesma.

Assusta-me o esquecimento, de tão inevitável que ele se torna. De tão real, o tempo, essa dimensão que me assombra a alma, que não existe, como se ele fosse a única realidade que estivesse oficialmente provada, nem que seja por encontrar essas mesmas marcas em mim mesma, nos outros.

E não sei.

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