domingo, 23 de outubro de 2016

Eternal Sunshine of the Spotless Mind

Preciso de escrever. A avó dele voltou da terra, o que quer dizer que ele deixou de estar sozinho em casa. Como quem se esforça para estarmos juntos neste ponto da nossa vida comum sou eu, e, tendo em conta que já não posso ir a casa dele, e ele não se sente bem em ver os meus pais (o que é só estranho), e também não aprecia cafés ou tem falta de tempo/vontade de ir a qualquer sitio público que não seja uma biblioteca (onde nem sequer podemos falar -.-) estou completamente limitada no espaço e no tempo (por ele) a estar com ele.
Passei a semana passada a pedir que abrisse um pouco do seu jogo para me deixar vê-lo este fim de semana e vi-me novamente a suplicar para estarmos juntos, para eu poder vê-lo. Depois de suplicar um "Chata, está bem. Mas não te atrases!" Fez-me recuar de imediato. Pensei na maneira como eu sempre me esforcei e me contínuo a esforçar para lhe mostrar que ainda existe algum valor no que resta de nós, e enfrentei o sempre desprezo que (sempre) recebo. Para ele é um sacrifício enorme pensar em estar com a minha pessoa, onde quem tem todo o trabalho sou eu. Pedi desculpa e disse o que sentia: "João sempre pode ficar para outro dia? Eu não te quero obrigar a estar comigo, desculpa, tens razão. Não é meu direito". E bom ao dizer isto tive perfeita consciência das minhas palavras, é parvo da minha parte fazê-lo encontrar-se comigo porque ele se saturou de me ouvir pedir, para além de ser uma falta de respeito para comigo própria. Fiquei consciente de espírito, porque sei que fiz o mais acertado. Se ele não quer, não se obriga, não tenho direito sobre ele. Responde ele: "Enfim. Agora vem o meu amigo. Perdeste vaga."
Acho que depois desta resposta entendi a falta de humanismo que percorre as suas veias, o lapso e a falha gigante na educação, o não enquadramento nesta sociedade. A falta de respeito que ele sempre teve por mim, depois de tudo o que dei para a sua causa. Ele não me merece em tudo. Ele não faz ideia de nada. Eu não conheço mais a pessoa que existe em si.
Passa-me pela mente que sem ser as saudades que diariamente me lembro de sentir e a angústia do meu coração partido, eu estou estranhamente mais feliz. O que em si se torna uma contradição. Eu sou mais livre, voltei a sorrir e a sentir animação com mais frequência, sinto-me mais confiante com vontade de fazer as coisas que guardei para mim porque ao João não agradavam. Digo que sinto um vazio por preencher, mas sei que ele está mais vazio que eu de certa forma, ele não tem nada, costumava ter-me a mim.
Agora que estamos a voltar à estaca zero penso em dois cenários totalmente irreais.
O primeiro é como se ele nunca tivesse existido, como se a Joana que o conheceu tivesse ficado parada no tempo e estivesse devagar a voltar a si, como se de um sonho todo este ano se tratasse, a Joana expectante está a seguir novamente pé ante pé um rumo individual, por ventura mais pessoal, o recuperar de uma relação como se ela não tivesse existido, como se o João sempre tivesse passado por mim na rua sem ser visto ou notório, só mais uma pessoa na rua com as outras.
Outra parte de mim pensa em como se as memórias fossem apagadas e sabe que se os destinos se voltassem a cruzar tudo voltaria a ocorrer, diferente sim, mas tudo de novo: João conhece Joana. Gostam muito um do outro. No fim de tudo o que é bonito e temeroso a Joana acaba na mesma, sem alma ou espírito e o João acaba na apatia que sempre designou como a sua parente mais próxima. Tudo de novo. E outra, e outra e outra vez.

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